Urgência urgentíssima & Post Scriptum
Urgente!
Tudo tem que ser imediato, nada pode esperar.
Apesar dos trânsitos congestionados por todo o mundo, vivemos sob o símbolo da velocidade, da rapidez, da urgência, do já e agora, aqui e agora.
O tempo de maturação não é suportado, é um atraso, a vida não pode parar.
Que vida?
A vida do futebol, por exemplo.
Nesse esporte, um alto grau de desconhecimento dos mecanismos que regem a formação, vida e morte de uma equipe, alia-se à pressa por resultados não menos que perfeitos e cria o campo ideal para colheitas tão terríveis como desastrosas. A pressa e a angústia manifestam-se mais que em qualquer outro período da história, repercutem, alcançam tudo e todos, e alimentam falsas crises. Ora, uma falsa crise bem alimentada transforma-se em uma crise verdadeira, robusta, bonita, saudável. Saudável para ela, crise, mas doentia, quiçá mortal, para o organismo em que se instala.
O mais perfeito exemplo de uma crise falsa que cresceu, virou verdadeira e levou o organismo à morte é a campanha palmeirense no ano do rebaixamento. O time vinha bem sob o comando de Celso Roth. Alguns resultados negativos foram o bastante para, num efeito bola de neve, engordar um ao outro e a mais um e a mais outro, até que o impensável aconteceu e o Palmeiras caiu.
Não acredito nisso para o São Paulo, é claro. Mas ao ler e ouvir torcedores e jornalistas falando e escrevendo sobre esse time, fico em dúvida.
Jornalistas com acesso a fontes dentro do clube são munidos de informações, todas negativas, e, até por amor à profissão, publicam, fazendo o jogo de uma facção que desconheço, mas aposto que existe. Torcedores iludidos seguem o provedor de “verdades” como os ratos seguiram o flautista de Hamelin. O som das críticas é tão inebriante como o som da flauta, e encontra seguidores às pencas. Nada mais fácil, por sinal.
As críticas são ferozes em sua maioria, duras. Tentar contemporizar ou explicar alguns acontecimentos serve apenas para exacerbar ainda mais a crítica e seus formuladores. Nada presta, nada vale, a não ser a satisfação imediata do desejo, seja ele a queda de um treinador ou a conquista de um título. Perde-se de vista a relatividade das coisas, perde-se de vista, também, o outro, esse ser terrífico, odiado, que nada mais é do que nós mesmos refletidos.
Pelo andar da carruagem é provável que o São Paulo seja derrotado pelo Palmeiras. Se isso acontecer, presenciaremos o final de um ciclo vencedor. Final antecipado e fora de hora, sem dúvida. E um final em total desacordo com a tradição que um dia já teve o São Paulo.
Será a vitória das forças da mesmice, da pressa e, gostem ou não, fique quem lê e pensa dessa forma ofendido ou não, será a vitória da intolerância.
Mas, tudo bem, ninguém repara nisso, pois todo mundo se comporta da mesma forma.
E a vida nos dias que correm é assim mesma, apressada, querendo o máximo pelo mínimo já.
Post scriptum
Muricy é um excelente treinador.
Dez entre dez equipes brasileiras gostariam de tê-lo no comando. Se puder trabalhar, ele vai dar conta dessa situação, sem necessidade de contratar outro. Mas, para isso, ele precisa de tranquilidade, o que não significa ausência de pressão. Todo profissional e particularmente os dessa área, convivem com a pressão. Ela é benéfica até certo ponto. Quando passa, torna-se fonte de problemas e não de motivação.
Ainda sobre o Muricy, vou transcrever a opinião de um amigo:
"O Muricy está um pouco confuso taticamente, mas é uma característica de seu trabalho. Ele treina e testa. Se der certo continua, caso contrário a mudança ocorrerá. O Muricy acredita em treinamento, em repetição, bem ao estilo Telê Santana. No fim dá certo, desde que tenha respaldo."
O autor desse trecho que citei é o César Augusto, corintiano da gema.
É isso.
Marcadores: Crônicas
4 Comments:
At 12:52 PM, Anônimo said…
Valeu pela deferência, Emerson.
O Muricy, eu reputo, um grande técnico, teimoso, é verdade, mas quem não é?
Acho que, no momento, está havendo um excesso, realmente, por causa dessa história de time do Muricy ou do Juvenal.
Quem conhece o Muricy, sabe que ele jamais aceitaria interferência em seu trabalho.
É um grande técnico, que se deixarem, conduzirá o São Paulo ao título ou a LA, no mínimo.
At 3:32 PM, Anônimo said…
Oi Émerson.
Concordo com tudo sobre o que você escreveu sobre crise. Eu também já tinha falado sobre estas crises que se instalam de fora para dentro. É certo que por melhor que seja o clima dentro de uma equipe, sempre haverá alguém insatisfeito em algum momento. Normal. O problema é que basta alguma queda no rendimento de um time para que tudo seja maximizado. E aí começa o problema. Uma declaração aqui, outra ali, e pronto, formou-se a confusão. E embora muito gente não goste de que se fale, a imprensa tem um papel fundamental na rápida evolução destas crises. Não digo por "perseguição" a este ou àquele clube, jogador ou técnico, mas pela concorrência que no meio dos canais de informação também existe. Não entendo a irritação de alguns jornalistas quando se fala que a imprensa é formadora de opinião. Ela é mesmo. É claro que muitos ouvintes ou leitores não são cordeirinhos que seguem a notícia cegamente, mas que nossas conclusões sobre os assuntos são formadas pelas notícias que recebemos, isto é inegável.
Abraços
At 10:16 AM, Anônimo said…
Emerson, quase sempre concordo contigo. Até em relação ao Muricy potencial: trabalhador, resiliente, cobrador.
Mas o Muricy de hoje, padece do mal terrível da soberba, que cega, desnorteia. Ele perdeu a sensibilidade que faz o sábio diferenciar coerência de teimosia. Escuda-se nas duas escolhas de "Técnico do ano" - o que, diga-se, em termos de Br não credencia muito - para desdenhar o apoio da tecnologia e da psicologia. "Motivação é frescura", como ele sempre diz? Eu estava no Morumbi e vi a "frescura" de Mano Menezes: jogando fora e era seu time que sufocava o adversário, um apático SP, à imagem de seu comandante (não vale bancar boneco de pôsto depois que mandou o time môrno pra campo!).
Claro que não sou dos maniqueístas, dos imediatistas. Mas tento não me aferrar a dogmas. O futebol mudou muito desde que Telê parou, já que ele pegou só um pouco das mudanças de regra (proibição de recuo de bola, sete bolas ao redor do campo, sete jogadores na suplência). O jogo ganhou em vigor físico. O técnico, com mais opções de banco, ganhou importância. Muricy tem que aceitar isto, gostando deste novo futebol ou não.
At 10:18 AM, Anônimo said…
Ah o "anônimo" fica pela facilidade. Abç,
PLINIO
SANTOS/SP
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