O grande jogo
O grande jogo do futebol brasileiro hoje está se desenrolando meio longe dos gramados. Nenhum dos jogadores usa chuteira. Calção e camiseta, então, nem pensar. No campo desse jogo impera a gravata e o terno, e nos pés sapatos cuidadosamente engraxados e brilhantes.
No campo propriamente dito, 22 jogadores em condições normais de pressão e temperatura correm atrás de uma bola, mediados por um juiz e dois auxiliares, assistidos por meia dúzia de gatos pingados ou por muitos milhões de aficcionados. Desses milhões, uma meia dúzia simbólica está à beira do gramado, e muitos milhões estão em seus próprios sofás, comendo, bebendo, xingando, gritando, se divertindo da forma que só os esportes movidos a paixão permitem.
No grande jogo do momento, porém, tudo é mais reduzido até o momento em que os grandes números aparecem sobre a mesa.
No último embate desse campeonato meio invisível, que teve lugar em algum local de São Paulo na última terça-feira, executivos da Rede Record começaram a falar a sério com dirigentes do Clube dos 13, o mal-sucedido espólio do que deveria ter sido uma liga independente.
Pelo que se comenta à boca pequena, dessa vez a Rede Record botou as cartas na mesa para valer.
E que cartas. Por trás delas uma pilha de fichas douradas, cada uma valendo um milhão de reais. E essa pilha tinha nada menos que quinhentas fichas!
Os engravatados dirigentes do mundo da bola devem ter tremido na base.
Recentemente, a Rede Record investiu sobre o Campeonato Paulista. Não levou, mas forçou a Rede Globo a pagar 60 milhões de reais e mais 10 milhões em publicidade por um campeonato que custou menos da metade desse valor em 2006. O BR custou à Globo 300 milhões em 2006. Parece, não posso afirmar, que em 2007 esse valor seria de 380 milhões. Pode ser, não é impossível. Dessa forma, parece bem provável que a Rede Record vá chegar a algo como 600 ou mesmo 650 milhões de reais, quase dobrando o valor pago pela Rede Globo, ou mais que dobrando.
Um valor como esse, de 600 milhões, representa nada menos que 222 milhões de euros ou 300 milhões de dólares. Um mundo de dinheiro. Mas bem menos que outro número que circulou pelo mercado nessa semana, na forma de boato ou notícia plantada, e que dizia que a emissora da Igreja Universal poderia chegar à assombrosa cifra de 1 bilhão de reais, nada menos que 370 milhões de euros, ou meio bilhão de dólares. Pura loucura, já saio dizendo antes que alguém acredite nisso.
Não acredito que o mercado brasileiro esteja preparado para pagar tão alto por jogos de futebol. Por parte dos patrocinadores haverá resistência, sem dúvida, e além disso o pay-per-view, com a classe média declinando, dificilmente dará um salto muito grande em sua base de assinantes. Pelo que pude levantar a partir de informações esparsas, o ppv deve faturar 50 milhões de reais nesse ano somente
Voltando aos clubes, mesmo sem chegar à mágica de um bilhão ou 650 milhões, os simples 500 milhões de reais podem representar nada menos que 35 milhões em caixa para cada um dos três times de ponta em audiência e penetração. Um bocado de dinheiro, sem dúvida. Nada, ainda, no primeiro nível europeu, mas já encostando em algumas equipes de renome.
A entrada em cena dessa dinheirama, muito provavelmente acirrará as discussões e divisões dentro do C13. Como conseqüência, eu acredito que alguns grandes clubes irão negociar suas cotas de televisão separadamente. Novamente, os três times citados deverão sair na frente, seguindo o exemplo de Real Madrid e Barcelona, que passaram a negociar de forma independente seus direitos de televisão. O resultado é que a partir dessa próxima temporada que começa em julho, esses dois times receberão um BR inteiro se o valor fixado for de 650 milhões de reais. Para ser mais exato, receberão pouco mais que um BR inteiro.
Esse pessoal que está jogando o jogo não está preocupado em jogar pra galera. É uma pena, pois esse jogo e esses jogadores eu gostaria muito de acompanhar. (Uma sentença cheia de jogos e jogandos...)
Talvez fosse bom assistir, mesmo sem torcida, mas duvido que isso interesse aos dirigentes da maioria dos clubes. Muitos podres devem vir à tona nessas discussões. Comenta-se que um dos empecilhos à mudança de rede, seja o fato de alguns clubes já terem recebido dinheiro da Rede Globo como adiantamento sobre futuros direitos de televisão. É o povo que mata o futuro para remediar o presente. O risco é um dia descobrir que o presente se esvai e o futuro não mais existe.
Futuro que será o melhor fruto dessas reuniões e uma eventual negociação dos direitos de tv. Futuro que fará a “alegria” de muito dirigente de clube, ou melhor, dirigente não, cartola.
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Marcadores: Marketing e Dinheiro
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