Sobre a vitória do São Paulo e pressões
Reproduzo abaixo e-mail que enviei para o site SP Net, nessa manhã de domingo com vitória do Massa.
No Estadão, Ugo Giorgetti intitula sua crônica - muito fraquinha e preconceituosa, por sinal - com "Um time igual aos outros".
Concordo, e vou além: Uma torcida igual às outras.
"Vitória de pouca valia
Posso estar enganado em tudo que penso, falo, escrevo...
Não frequento o Morumbi, exceto em dias de jogo e não todo jogo.
No CT só fui pouquíssimas vezes, mais pra festa do que pra treino.
Portanto, abasteço-me com o que leio, vejo e ouço pelas mídias diversas.
E também uma conversinha ou outra com algum amigo.
Depois da derrota sem grande importância pro São Caetano e, principalmente, depois da derrota para o Grêmio, em pleno Olímpico, o mundo desabou. Parece ser coisa normal, talvez seja mesmo, mas a anormalidade começa nas pressões extremas de fora para dentro, pressões emitidas por jornalistas diversos e torcedores, através de meios de comunicação. Antes da internet os torcedores manifestavam-se nas arquibancadas e em cartas para os jornais. Hoje, a internet amplifica todas as vozes, aumenta a base de "formadores de opinião" e aumenta, e muito, o poder dos próprios jornalistas, muitos dos quais passam a dispor de duas tribunas: a do veículo onde trabalham e a da internet, por meio de blogs pessoais, onde podem ser mais diretos e contundentes e, portanto, parciais, do que nos veículos oficiais, convencionais.
A partir desses fatores, na minha opinião, a pressão foi crescendo.
Ora, qualquer organismo tem que reagir a uma forte pressão, porque ela desencadeia reações internas.
Todo organismo social tem lá seus focos de tensão. Peguem uma família modelo, onde o amor puro e maravilhoso predomina. Exerçam uma pressão forte sobre esse antro de pureza angelical e as tensões latentes aparecerão, talvez até de forma selvagem.
Não é nem privilégio de humanos, é um fato da natureza a resposta a pressões, tanto por parte de indivíduos como por parte de coletividades, de formigas a monges tibetanos.
As tensões latentes no famoso "grupo" explodiram. Com certeza, dessa missa não sabemos nem a metade.
Mesmo num grupo onde a maioria não tivesse nome e pretensões, as relações são complicadas. Num grupo como esse montado pelo São Paulo tudo isso é mais intenso. Todos os jogadores têm certeza absoluta que deveriam ser os titulares. Mas uma parte do grupo fica na reserva. O fator "derrotas" funciona como um catalisador dessas tensões. O que é um catalisador? Basicamente, em química, é um acelerador de reações.
O fator "derrota" foi o acelerador de reações, da explosão de tensões que estavam submersas. O povo chama a isso de "a gota-d'água que transborda o copo".
A meu ver, portanto, nada há de extraordinário em todo esse processo. Exceto a pressão externa.
Um parêntesis: Muricy Ramalho entende de futebol milhares de vezes mais que eu. Ele conhece futebol. Vive a vida inteira do futebol e no futebol. Como ele, Rickjaard, Ancellotti, Ferguson e outros "burros". Alguém - não recordo - aparentemente indignou-se com minha "comparação" de Muricy com esses caras. Ora, não estou comparando, o que ocorreria se eu colocasse lado a lado um e outro ou outros e comparasse. Só coloquei-os no mesmo balaio, pois todos treinam e dirigem elencos bons de grandes clubes, elencos que em parte do tempo são times vencedores. E todos são chamados de "burros".
Devem ser burros, sim. Aliás, com certeza são burros. Se fossem inteligentes ficariam de fora e só xingariam. É mais fácil, mais tranquilo e desopila o fígado.
Se o torcedor pode, e até deve ter esse papel, o mesmo não posso dizer de muitos jornalistas, que se valem do nome obtido às custas de um grande veículo de comunicação e deitam falatório pessoal. E nossa sociedade, não é de hoje, habituou-se a ver na mídia e em seus representantes, a "Verdade".
Ora, francamente...
Eu não vivo sem imprensa livre, não existe vida inteligente sem imprensa livre, não existe democracia e sociedade moderna sem imprensa livre. Mas, francamente, a imprensa livre é feita por... jornalistas. E quando o jornalista exprime sua visão pessoal e a dissemina, deixa de ser jornalista e passa a valer-se desse fato numa outra vertente. Melhor faria se abdicasse da tribuna e função jornalística e viesse pra vala comum dos mortais defender seus pontos de vista.
Bom, alonguei-me demais, porém é isso: uma forte pressão externa criou uma crise não artificial na essência, mas artificial na intensidade.
Ora, voltando então ao mero futebol, era mais que óbvio que o treinador de plantão à frente do SP, quem quer que fosse, mudaria o time depois do jogo no Olímpico. Alguns jogadores que deveriam render bem, não o fizeram. Fim da competição, começo de outra, hora de reavaliar e mudar algumas coisas. Nada mais normal e natural. Muricy faria as mudanças com ou sem a aparição do Juvenal Juvêncio.
Não acredito que JJ tenha dito nada a Muricy no sentido de escalar fulano ou beltrano. Não é seu estilo e ele é inteligente e conhece o mundo da bola e dos boleiros. Sabe que no momento em que faz algo assim perde o respeito de todo mundo, desde o quarto reserva até o treinador. A bronca foi, sim, necessária. Muito mais para dar recado aos formadores de opinião, todos externos, do que para puxar orelhas internamente.
A vitória de ontem para pouco serviu. O elenco terá uma semana mais ou menos tranquila até o jogo contra o Náutico. Algo como o barco na borda duma tempestade tropical forte, ora açoitado por ela, ora deixado à parte por uma mudança na direção dos ventos, que, entretanto, podem voltar a qualquer momento.
Acredito que o São Paulo tem uma direção competente, tanto política e administrativa, como técnica. Olho ao redor e tudo que vejo nos co-irmãos daqui e de outras praças só confirma minha opinião. No momento em que pressões tão fortes interferem no dia-a-dia do time, perdemos essa distância, essa diferença para os demais, e ficamos todos no mesmo balaio de gatos.
Temos totais condições para dar a volta por cima nessa fase, vencer de lavada o Brasileiro e, de quebra, a Sul Americana. Com o elenco submetido às pressões normais de todo elenco de grande time, mas sem a intranquilidade que tanta agitação externa leva para dentro do vestiário, do gramado, da concentração.
Talvez seja uma postura blasé, ou demonstração de soberba, arrogância e outras coisas, mas é o que eu penso. Não precisamos de tanto desespero, tanta pressão, tanto "Fora Muricy, Souza, fulano, beltrano, cicrano", isso não é coisa para uma equipe como a do São Paulo. Não nesse momento, com certeza.
Parece-me uma reedição diferente na forma, mas semelhante no conteúdo, das manifestações que culminaram com a saída de Kaká e Luiz Fabiano.
Talvez essa vitória sirva para algo mais que os três pontos. Tomara.
E eu sigo acreditando no São Paulo, com Muricy Ramalho à frente."
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Marcadores: Crônicas
1 Comments:
At 1:01 PM, Anônimo said…
Pois é Émerson, esta pressão em cima de alguns clubes, acbam por prejudicar. Eu particularmente sempre deixei claro que não acreditava ser a saída do Abel solução para nada. Acho este Gallo muito "vaselina". Chegou só para fazer o que não se podia exigir do Abel: Clemer no banco. Dispensa do Gabirú. Dispensa do Michel e outras atitudes de conveniência da direção.
Chegou cheio de atitude e no frigir dos ovos, tudo igual. Qual a escalação de ontem? A mesma de sempre. Esta pressão em cima do clube, cria-se de fora para dentro. Torcedores pressionados pela imprensa, pressionam o time. Criam teorias de motim e coisas afim. Resultado, o time desaba, a pressão é forte e a crise realmente se instala, e aí é difícil. O jogo de ontem, dá uma pequena mostra de tudo isto.
Alexandre Pato perdeu gol, Fernandão perdeu gols, tudo meio sem explicação, numa clara demonstração que a tal da pressão já está funcionando.
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