Um Olhar Crônico Esportivo

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sábado, maio 05, 2007

Muricy Ramalho


O site Terra fez uma entrevista tão boa com o Muricy que não resisti: copiei e colei aqui. A bem da verdade, colei do Estação Tricolor, outro site excelente e não só sobre o São Paulo.


Tem ex-jogador demais falando bobagem"

Fonte: Luciano Borges



Quarta-feira passada, vestiário n°1 do Estádio do Morumbi, uma hora antes do início de São Paulo e Grêmio. Na sala do treinador, Muricy Ramalho acompanhava, pela televisão, a partida entre América do México e Colo-Colo, do Chile. Era o terceiro jogo que ele assistia desde segunda-feira. "Eu dei uma olhada em Chelsea e Liverpool, e também no jogo do Milan contra o Manchester United", contabilizou.
Até sexta-feira, o técnico do São Paulo veria ainda as partidas entre Caracas e Santos, Defensor e Flamengo, além dos gols e melhores momentos de outros confrontos da Libertadores.

Nesta semana, Muricy Ramalho se ateve ao futebol. Em geral, acompanha o beisebol e o basquete americano. "Sei todas as regras do beisebol e admiro a disciplina tática do basquete", costuma dizer.

Muricy, 51, jogou em 13 times no Brasil. Dirigiu 13 equipes, entre elas o Puebla, do México, e o Chuhua, da China. Passou pelo São Paulo duas vezes e já ganhou seis títulos estaduais, três internacionais e um campeonato brasileiro.

Campeão brasileiro de 2006, Muricy Ramalho é perfeccionista e vem ganhando fama de mal humorado, especialmente com os jornalistas. Na verdade, o técnico do São Paulo reclama -e muito - que é criticado por quem não vê seu trabalho de campo.

Mais: ele gostaria que os comentaristas - especialmente ex-jogadores - tivessem um interesse parecido com o dele pelo futebol e por esquemas táticos. Nesta entrevista, Muricy dispara contra os críticos ausentes e cobra a presença deles nos treinamentos. Leia íntegra da entrevista:

Terra Magazine - Por que você acha que o futebol anda muito chato?
Muricy Ramalho - Sabe o que é? São as pessoas que falam de futebol. Elas se apegam em besteiras, em ondinhas. No Brasil, se dá muito pouca importância à parte tática, aos treinamentos. No final, os caras dão opinião sobre o que sabem, e não sobre a realidade. O julgamento é o pior possível e pode prejudicar um profissional. Isto é chato mesmo.

Mas o que causa essa irritação?
Tem ex-jogador demais aí falando bobagem. O que me irrita é o cara te arrebentar publicamente, sem ter nenhum fundamento. Ele não vai aos treinos, não conhece o dia-a-dia do clube, fica sem saber se um jogador tem problemas particulares. E o pior é que eles sabem o que é ser treinador. Já trabalharam com vários deles. Do jeito que falam, se assumissem um time seriam invencíveis. Mas a realidade não é essa.

Você tem exemplos deste distanciamento da realidade?
Contra o Audax Italiano, o Aloísio (Chulapa) fez um sinal avisando que estava sentindo a coxa. Pediu para sair. Eu o tirei de campo. Um comentarista de TV me criticou, dizendo que não entendia porque fiz a substituição. Depois do jogo, o repórter da emissora perguntou ao Aloísio e ele confirmou que pediu para sair. E acho até que o repórter queria confirmar que eu tirei o cara porque quis. Ora, passei 15 jogos ouvindo todo mundo criticar o Aloísio porque ele não fazia gols e o mantive no time. Ia tirar pra quê?
Quer outra? Quando dirigia o Internacional, fui colocando o Diego (atacante) aos poucos. E a imprensa pressionava para que ele começasse como titular. Quando ele jogou desde o começo pela primeira vez, um comentarista disse que o Diego não chutava em gol, que não treinava chutes. Ora, o que eu mais faço é treinar e aprimorar fundamentos.
O Diego é um atacante que gosta de sair pelas beiradas, de dar assistências. Mesmo assim, eu fazia com que ele treinasse finalizações. Quer dizer, o cara lá de cima estava todo errado. Mas ele tem o microfone e fica parecendo que é falha do treinador.

Você nunca pensou em convidar os comentaristas para assistir os treinos?
Era uma boa. Mas veja bem: o CT está aberto para quem quiser olhar. Eu não sou treinador que se preocupa com quem entra aqui, como está o jardim, estas coisas. Meu negócio é o campo. Agora, seria bom que quem viesse, assistisse aos treinos. Uma vez, eu dei um trabalho tático de 40 minutos. Só coloco o time que vai jogar para treinar tático. Depois, na coletiva, a primeira pergunta que fazem é: "Qual o time que você vai colocar em campo?". É demais. Mandei os caras assistirem o treino e pararem de comer bolacha e beber cafezinho.

Você não está generalizando?
Não. Mas nunca vi um comentarista por aqui. Eu não estou cobrando. Eu sei que os caras têm compromissos com TV, rádio, site e jornal. Não sobra muito tempo. Mas aí não pode dar opinião sem pelo menos checar uma informação antes. Hoje, o cara que do microfone tem solução pra tudo. Com ar condicionado é mais fácil.

E o que ele perde por não acompanhar os treinamentos?
Eu costumo dizer que as pessoas não sabem 10% do que acontece num time de futebol. Muitas vezes nem podem tomar conhecimento. Os jogadores são seres humanos, têm problemas particulares. Às vezes, um desgaste físico e até psicológico atrapalha o rendimento de um atleta. O treinador tem que saber de tudo isso e lidar com estas questões. Mas acompanhar de perto o dia-a-dia ajuda o jornalista a saber um pouco mais.

Quem também não vem aos treinos é o torcedor, que anda chamando você de burro.
Mas aí eu respeito. Aí é a emoção que está em campo. O São Paulo jogou um segundo tempo muito bom contra o Grêmio. Não só porque fez um gol, mas porque não permitiu mais do que um chute a gol do Grêmio. Mas o torcedor quer ver o time criando, marcando gols. Ele nem sabe. Agora, se o adversário tem a bola, se a gente não marcar, como vamos recuperá-la? Mas entendo que a emoção nem permite ficar raciocinando. Quando vejo a seleção brasileira, também cobro, sou exigente.

Você é burro?
Olha, eu tenho vários títulos conquistados. Nos últimos dois anos fui eleito o melhor treinador do Brasil. Vários clubes do exterior já tentaram me contratar. Acho que se fosse burro, isso tudo não iria acontecer, iria? Agora, eu sei que muitas vezes o torcedor é influenciado pelos jornalistas. Aí o microfone vira uma arma. Por isso eu falo que o comentarista não pode achar nada. Ele tem que ter certeza. Se não, ele joga no ventilador e sobre para o profissional que trabalha direito.

Então o que dá prazer no futebol?
O dia-a-dia aqui. Trabalhar em campo me dá prazer. Dou entrevistas porque sou obrigado. Os artistas do futebol são os jogadores, não o técnico. E não é falsa modéstia. Eu gosto de melhorar o atleta. Quero ver o cara que não sabe cabecear fazer gols de cabeça. Gosto de melhorar o futebol. A teoria é importante, mas acredito na prática.

O jogador de hoje entende de futebol?
Entende. Ele sabe que se não se dedicar à profissão, não joga. O cara começa bem e não pode perder a dedicação. Se começa a sair na noite, se entusiasmar demais, não agüenta. O futebol mudou. No meu tempo, a gente era menos exigido. Hoje, os jogadores correm mais tempo e em velocidade maior. A musculatura é muito exigida. E tudo isso é calculado. Não dá para enganar. Eu não quero saber o que eles fazem, não controlo a vida dos meus atletas. E eles têm demonstrado profissionalismo.

Qual é o jogador que você tem prazer em ver?
O Kaká. Na quarta-feira, todo mundo aqui no CT parou para ver Milan e Manchester United. A gente torceu pro Milan porque tem os brasileiros, mas especialmente pelo Kaká. Ele é o melhor do mundo e o mais completo: marca bem, arma, defende, se movimenta, corre sem parar, cabeceia, chuta. Ele dá exemplo. É um atleta. Porque eu conheço jogador de futebol. O cara chega aqui e vai olhando. Se vê a estrela do time saindo cedo, treinando pouco, se divertindo, ele também vai fazer isso. Mas se encontra um Kaká, a história é outra.
Aqui no São Paulo, o novo atleta chega e vê o Rogério Ceni em campo às 8h30. Depois, vê o Ceni saindo por último, depois de todo mundo. O cara pensa: "Se o melhor do São Paulo faz tudo isso, eu tenho que fazer também". Aqui no São Paulo não dá para encostar. Jogar com o Kaká é a mesma coisa.

E o time que você gosta de ver?
É o Liverpool. Uma equipe aplicada, bem treinada, que sabe o que quer em campo. Não tem muitas estrelas nem é muito cara se compararmos a outros clubes europeus. Gosto de ver o Liverpool jogar. É um time arrumadinho.

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2 Comments:

  • At 4:25 PM, Anonymous Anônimo said…

    Muito bom esse Muricy. É o cara que dá as melhores entrevistas.

     
  • At 12:29 PM, Blogger Gisele Karine said…

    Oh Muricy sai naum!
    Fica!
    Obrigaduh pelas conquistas tricolores...........

     

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