Guerras chatas e anunciadas
Preparem-se, leitoras e leitores desse Olhar Crônico Esportivo: o que essa semana terá de chata, terá de longa. Uma das guerras já está em pleno desenvolvimento desde a semana passada e é semelhante àquelas que as crianças travam – quando bem crianças –, como, por exemplo, quem cospe mais longe, quem tem mais brinquedos, esse tipo de coisa.
Outra guerra há muito anunciada, por todos conhecida, mas nem por isso por ninguém evitada, é a velha pendenga “eu não vou jogar na casa dele” e começou para valer na noite de ontem, ainda nos vestiários do Morumbi e de Barueri.
Finalmente, mas não menos importante pelos desdobramentos que proporciona, temos a terceira, a guerra das palavras, tanto as proferidas como as distorcidas.
A guerra do favoritismo
Voce é melhor que eu!
Nada disso! Você é que é muito melhor que eu!
A guerra verbal “o favorito é ele” já começou. Aliás, começou na semana passada, quando, sem maiores motivos ou provocações, Vanderlei Luxemburgo disparou que o favorito para a conquista do título estadual paulista era o São Paulo. Ora, Vanderlei pode ser muitas coisas, menos bobo e derrotista, muito antes pelo contrário. Sua declaração tem endereços certos e bem conhecidos: o elenco são-paulino e o seu próprio grupo de jogadores. O objetivo desse ataque, pois é disso que se trata, é jogar a responsabilidade pela vitória sobre as costas do outro.
Luxemburgo, porém, exagerou na dose dessa vez. Clássico é clássico, é verdade, mas nesse momento o time do Palmeiras é muito superior ao do São Paulo, tanto entre os onze que entram em campo como no banco. A campanha é melhor e tem um jogador que desequilibra, Valdívia, e tem pela frente uma semana inteira de descanso e treinamento antes do primeiro jogo. Esses são alguns dos pontos positivos alviverdes. Do outro lado do muro, Muricy ainda está formando o time. O elenco é pequeno, mais ainda agora, desfalcado de dois jogadores, afastados pela diretoria. Não bastasse, Borges foi suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Completando esse quadro, já por si tenebroso, o São Paulo enfrenta o Audax Italiano
Essa é uma das maldades de um torneio como o campeonato estadual: além de impedir uma boa preparação das equipes para a temporada, com seu enorme número de jogos e uma fase final desnecessária, ele ainda por cima atrapalha terrivelmente o desempenho das equipes que disputam a Copa Libertadores, como é o caso do São Paulo e do Santos. No Brasil, hoje como sempre, os times vencedores são cruelmente penalizados pelo calendário.
Eu tenho claro quem é o favorito para chegar à final.
Você também?
Velha guerra há muito anunciada, nunca evitada
Todo ano, nos últimos anos, é a mesma velha história: a Federação se arroga o mando de campo e, incentivada e aconselhada pela Polícia Militar e pelo Ministério Público, marca os jogos finais para o Morumbi.
Todo ano, nos últimos anos, é a mesma velha história: a diretoria palmeirense assina o regulamento e quando chega o momento dele ser colocado em prática começam a gritar que não vão aceitar, que não é correto, que não vão fazer dois jogos na casa do adversário, que têm direito a jogar o seu mando em sua própria casa.
Ora, se tudo isso é verdadeiro, se tudo isso é tão injusto, por que cargas-d’água aceitam e assinam um regulamento? Mais: tendo na presidência da Federação um conselheiro vitalício e ex-diretor (várias vezes) do clube?
Durante muitos anos o Palmeiras disputou muitas de suas decisões no Morumbi, sem o menor problema, ali ganhando muitos títulos. De repente, porém, o estádio passou a ser tabu.
Inegavelmente, é justo que cada time jogue seu mando em sua própria casa, atendidas as normas de segurança pelo máximo. É justo, também, que cada time fique com a renda do seu próprio jogo.
Guerra de palavras
Todo ano é a mesma velha história: microfones na mão, os repórteres instigam, fazem perguntas colocando trechos de frases fora de contexto, acirram os ânimos, jogam gasolina no fogo.
Ontem, terminado o jogo no Morumbi, quem ouvia os comentários finais e as conversas de vestiário pelas emissoras de rádio, pôde acompanhar um pouco como essas coisas funcionam. Um repórter da Pan disse que “comentava-se” nos vestiários do São Paulo que os dois jogos seriam no Morumbi. Pior ainda que isso foi a forma como essa suposta informação foi transmitida, dizendo que o pessoal “já sabia” que os dois jogos seriam no Cícero Pompeu de Toledo. Naturalmente, quando o diretor de futebol do Palmeiras, Gilberto Cipullo, entrou no ar, a pergunta inicial foi feita a partir desse ponto, que o São Paulo já sabia com certeza onde seriam os jogos. Esse foi só o começo.
Minutos depois, microfones abertos para o diretor tricolor, João Paulo de Jesus Lopes, com a mesma pergunta. Em sua resposta, depois de desmentir a (suposta) informação, João Paulo disse que o São Paulo não iria jogar “em pasto”, em clara referência aos gramados de Bragança e Ribeirão Preto, ressalvando, porém, que isso nada tinha a ver com as cidades, etc, etc. Claro que a cobertura da mídia ignora as ressalvas e ressalta “São Paulo não jogará em pasto”.
Pronto! A guerra está em curso e nem mesmo a viagem e o jogo no Chile serão o bastante para amainá-la.
Haja paciência, haja papel, haja tudo, enfim, para agüentar os próximos dias.
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