O BR dos empréstimos e adiantamentos...
... e o BR dos patrocínios
O BR do futebol está entrando em sua penúltima rodada. Possivelmente, o novo (velho) campeão será conhecido domingo. Caso contrário, no outro domingo, impreterivelmente, chova ou faça sol.
Já o outro BR, o dos patrocínios, campeonato que não é disputado sob a égide da CBF e de nenhuma – Thank’s God” – das federações estaduais, não tem data para acabar. Sequer sabemos em que pé ele está, quem está jogando, quanto é o placar, qual o tempo que resta de jogo, nada, enfim. Tudo que temos são especulações, algumas alimentadas por dirigentes, outras a anos-luz de distância a dar-se crédito aos boatos e contra-boatos.
Vamos, então, a um rápido panorama desse tema tão fascinante, embora não tenha nenhuma coleção de números – 352, 442, 433 e outras – a acompanhá-lo.
Antes, porém, de falarmos desse campeonato estimulante dos patrocínios, o campeonato “do bem”, vamos dar uma olhada no campeonato “do mal”, o dos empréstimos e adiantamentos.
Há um ponto básico a ser considerado, previamente: o Crash de 2008.
Wall Street ruiu e com ela ruiu o crédito também por aqui.
No Mato Grosso, sojicultores arrancam os cabelos e apertam os cintos das jeans porque não têm crédito para comprar os insumos necessários a uma nova safra.
Por todo o país, felizes compradores do primeiro carro, e já um Zero Km, tornam-se infelizes inadimplentes, com um horizonte nada amigável de 50, 60 e até 90 parcelas mensais ainda por pagar.
No Rio de Janeiro e em São Paulo, dirigentes de clubes poderosos arrancam seus cabelos e afrouxam gravatas francesas porque não têm dinheiro para a 1ª parcela do 13º, essa maravilhosa invenção tupiniquim, criada num rasgo de gênio para manter os pobres mais pobres com salários de fome o ano inteiro, até que no Natal... Voilá!
Um dinheirinho para comprar um panetone e uma garrafa de cidra.
Voltando ao futebol, os dirigentes que afrouxaram as gravatas francesas tampouco têm dinheiro para a 2ª parcela do 13º. Pior ainda, muitos deles sequer têm dinheiro para o salário... de outubro, de novembro, de dezembro e para o dinheirinho adiantado das férias, com essa outra grande invenção tupiniquim (repetitivo, né?): o adicional sobre as férias e mais o salário das férias.
Haja dinheiro.
Dezembro é o pior mês do ano para qualquer empresário brasileiro. Novembro passa perto, quase tão ruim quanto. No caso do futebol, o janeiro que se segue ao dezembro é igualmente tenebroso: só despesas, quase nenhuma receita. Fevereiro é idêntico. Essa quadra, novembro a fevereiro, aterroriza os dirigentes e deveria ser estímulo bastante para que eles planejassem as contas ao longo do ano. Mas qual!
Jacaré planejou?
Nem eles.
Todo ano repete-se a mesma velha história, ou como diz a música gloriosa de Casablanca, the same old story. Bate o desespero.
Os ouvidos do pessoal do Clube dos Treze devem estar doendo, tantos devem ser, com certeza, os telefonemas do presidente fulano, do presidente cicrano, do presidente beltrano, todos com o mesmo pedido: fala aí com a Globo e dá um jeito de liberar mais adiantamento que eu preciso pagar as contas do clube.
A coisa é tão braba que ainda nessa semana o São Paulo mandou um recadinho à BWA: manda logo o dinheiro da renda de domingo. Com todos os 68.000 ingressos vendidos desde a semana passada, e o pagamento da 1ª parcela do 13º estourando, não dá para ficar esperando a remessa do numerário. Pedido feito, pedido atendido, e 500.000 reais, segundo a Folha, caíram nos cofres tricolinos bem a tempo. Mas não é nada difícil que o clube tenha pego algum empréstimo para cobrir esse período.
Boa parte dos clubes acostumou-se a não se preocupar muito com tudo isso, graças a outra grande arte brasileira: a empurrometria abdominal. Ou, vulgarmente, a arte de empurrar com a barriga ou, muito pior, a arte de puxar os ganhos futuros para pagar os gastos presentes (mais grave ainda é tirar do futuro para pagar o que já é passado, outra coisa muito comum).
Mas, tem o Crash.
O Crash secou as fontes de crédito ao norte do Equador, e o reflexo dessa seca bateu mais rápido que o normal ao sul do Equador, evaporando igualmente o crédito que até poucos dias atrás abundava, desde para comprar um zero km em suaves 96 parcelas, até o adiantamento, com os juros, taxas e IOF de praxe dos ganhos futuros com direitos de TV e mais patrocínio e mais isso e mais aquilo...
Opa, alto lá!
No caso dos clubes não tem “mais isso e mais aquilo”. As parcas fontes de renda dos clubes brasileiros estão hoje, praticamente, limitadas à TV e aos patrocínios.
Espero que este blábláblá recheado com algum besteirol tenha passado uma idéia mais clara do porque dos atrasos salariais. Do porque o Palmeiras pegou mais um empréstimo com Salvador (salvador de fato e de nome) Palaia, e adiantou já a maior parte da verba de TV da FPF, e a terça parte de seu patrocínio Adidas para 2009.
Além de outros adiantamentos de TV do Clube dos 13 e mais empréstimos de outros diretores, conselheiros e beneméritos. Do porque o Corinthians, o Galo, o Botafogo, com certeza também o Flamengo, e por aí vai, também vivem situações idênticas.
O ano que se avizinha tinha tudo para ser um divisor de águas em nosso futebol: novo e excelente acordo sobre os direitos de TV, novos patrocínios com valores de 1º Mundo (antes do Crash e da queda do câmbio), crescimento no público médio do Campeonato Brasileiro, aumento nas receitas com licensing em grandes clubes, mas o terremoto que ainda abala as estruturas da economia mundial botaram essas expectativas por terra.
Agora, é continuar aguardando.
Na próxima postagem, O BR dos patrocínios
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Marcadores: Marketing e Dinheiro
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