Um Olhar Crônico Esportivo

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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Timemania – alguns comentários



Estou me explicando muito, o que pode ser sinal de uma posição não muito firme, mas que pode ser, também, a necessidade de explicar melhor uma posição muito contra a corrente.

Desde o começo entendi a Timemania como uma anistia.

Ora, isso pressupõe que a pessoa ou entidade anistiada estará perdoada, livre dos problemas passados que levaram-na à necessidade desse gesto de generosidade e também de interesse. Sim, porque à sociedade interessa que todos seus membros comportem-se de maneira correta, civilizada, dentro das leis e das normas de convivência aceitas por todos como dignas.

Compete à mesma sociedade proporcionar condições para que o anistiado retome sua vida de forma produtiva. Isso é a mesma coisa que compete à sociedade fazer com o sentenciado que cumpre sua pena e readquire a liberdade. Se ele não encontra condições objetivas e ao seu alcance de ser produtivo e sustentar-se, inevitavelmente voltará aos desvios que o levaram a ser condenado.

É importante dizer que a sociedade, no caso da Timemania, foi representada por quem de direito: os parlamentares eleitos. Se bem ou mal é outra conversa. Formal e legalmente, compete a eles discutir e aprovar ou não medidas do interesse de todos.

Na medida em que isso aconteceu, eu esperava condições mais realistas para que os clubes de futebol superassem seus problemas. Incomoda-me o rigor excessivo, muito bem demonstrado pelo comentário não assinado no post “Angelical ou satânica?”, mas que talvez tenha sido do Delcides, que no post anterior, “A dura realidade”, enveredou por caminho semelhante.

Por que não usar a TJLP para a correção da dívida?

O emprego da SELIC foi para demonstrar o que? Rigor? Seriedade?

Ou somente para penalizar os clubes?

Foi o próprio Estado com sua habitual incúria, incompetência e brutal taxa de corrupção, que parece estar solidamente inscrita no DNA brasileiro, que permitiu que se chegasse à situação que hoje vemos, com dívidas monstruosas, simplesmente impagáveis, até porque, em outra característica típica do Estado, as multas que ele aplica a torto e a direito são fora da realidade. Sua única função é permitir o crescimento contínuo dos escritórios de advocacia, nada mais.

Falando assim parece que os cartolas caloteiros (mais caloteiros que sonegadores), para ficar sempre na adjetivação mínima, foram pobres inocentes.

Não, não foram, muito longe disso, e tivéssemos nós uma legislação mais moderna e adequada aos tempos que vivemos, muitos deles deveriam estar cumprindo penas de detenção, mesmo que em liberdade provisória ou vigiada.

Anistiar faz parte de nossa tradição. É assim que somos, meio meigos, meio moleirões, meio condescendentes com os erros, meio crentes na recuperação. São traços de nossa personalidade como povo, fortemente influenciados pelo catolicismo. Não somos fundamentalistas como os norte-americanos, por exemplo. Jamais seremos, atrevo-me a dizer. E acho isso bom, embora desgoste do nosso jeito bonzinho de ser em excesso. Mas, somos assim, e o melhor que temos a fazer é vivermos com nossas qualidades e defeitos da melhor maneira possível.

O que inclui a anistia via Timemania.

:o)

Vamos aos comentários, finalmente.

1 – A Receita e a CEF não divulgaram os valores devidos por cada clube; acredito, mas não tenho certeza, que essa informação ainda virá a público; essa tabela foi preparada pelo portal Globo.com, e pode ter correções; uma delas eu mesmo já apontei e diz respeito à dívida do Flamengo; se o Internacional não está relacionado, de duas uma: não deve tributos federais ou escapou à pesquisa do portal.

2 – Não sei se a questão dos juros e do saldo residual eventualmente existente ao final do prazo de contrato tenha sido objeto de lei ou portaria; se algum advogado com vivência na área fiscal ler esse post e quiser comentar a respeito, agradeço.

3 – O Flamengo quitará essa dívida? Essa pergunta por si só merece um post inteiro. :o) Sim, creio que sim, dadas algumas condições internas e externas. Entre as internas, a mais clara e óbvia é a presença de direções sérias, que não façam loucuras. O clube, mais do que nunca, precisará de uma gestão inteligente e criativa, que busque novas fontes de receitas e incremente as já existentes. Ganhar ou não ganhar títulos não é fundamental, mas disputar títulos é básico.
Ou seja, o time de futebol terá que render em campo à altura da administração, e quanto mais competente for a administração...

No que diz respeito às condições externas, imagino, de bate-pronto, três premissas para que isso aconteça:

- manutenção da estabilidade econômica, seguida pela tão sonhada redução na taxa de juros;

- aceitação popular dessa loteria;

- crescimento de sua arrecadação de forma contínua.

Difícil? Sem dúvida.

Impossível? Longe disso.

Naturalmente, o que está dito sobre o Flamengo aplica-se a todos os outros, inclusive aos que devem pouco ou mesmo nada devem.


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2 Comments:

  • At 10:10 AM, Blogger Unknown said…

    Emerson,

    O único post que eu fiz sobre o assunto foi assinado. E minha análise foi bem mais simples que a do anônimo: eu supus uma taxa mais alta (11% a.a.), não separei o desembolso do clube da parcela que vai ser paga pela Timemania e não dei o primeiro ano de carência.

     
  • At 6:31 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson,

    Primeiro me desculpar por ter esquecido de assinar o post que deixei na tua matéria "Angelical ou satânica? Justa ou injusta?".

    Quanto à divida do Flamengo, minha opinião é semelhante à tua, creio que dê para quitar no prazo. Um dos fatores que mais me motiva a pensar assim é que o Flamengo está, ainda que timidamente, conseguindo explorar com maior eficácia e abrangência sua marca(FlaTV, SuperLeague Formula, Projeto de contratação e exploração da imagem do Ronaldo, Parceira com rede de comercialização de materiais esportivos para construção de lojas temáticas do clube em cidades com potêncial, Revitalização do site do clube...).

    Quanto à timemania eu sou favorável. E você é um dos poucos que externaram uma visão isenta de demagogias acerca desta ferramenta.
    Penso que não há motivo que desabone a timemania ao ponto de tantos serem contrários, pois quem vai pagar é o consumidor de loterias e os cofres públicos tendem a receber valores que todos nós sabemos que eram considerados como pouco prováveis de serem quitados pelos devedores.
    Se a finalidade dela é resolver o problema dos clubes e do governo, aonde está o mal? Irá prejudicar a quem?

    Penso que devemos cobrar, LEIS que permitam que o estado regule a atuação dos dirigentes dos clubes e puna aqueles que não cumprirem com as suas obrigações, LEIS que possuam como essência princípios similares aos da lei de responsabilidade fiscal que é aplicada aos administradores públicos.

    Agradeço tua atenção e empenho em responder às indagações.

    Grato,

    Kleber - Paraná
    msg_nosrebelk@hotmail.com

     

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