Um Olhar Crônico Esportivo

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quinta-feira, julho 17, 2008

Torcedores ou militantes?


O caso da roxinha

Meu primo é corintiano. Não é muito de ir a campo, mas costuma ver todos os jogos pela televisão e compra, de vez em quando, algum produto oficial, geralmente uma camisa nova.

Quando saiu a camisa roxa como terceiro uniforme, ele ficou louco, queria porque queria a roxa já e agora. Sinceramente, não sei o motivo de tanto entusiasmo, tanta vontade, talvez uma mistura de ajuda ao clube do coração e o prazer de usar uma camisa bonita e diferente.

Naturalmente, logo nos primeiros dias ele comprou a sua roxinha pela internet. Demorou, mas recebeu-a pelo correio.

Quando ela chegou, bom, digamos, ela já estava meio morta. Já tinha sido usada uma vez, no Pacaembu, em jogo contra o Fortaleza, vencido por 2x0. Sua verdadeira estréia, porém, foi cancelada pela direção alguns dias antes. O motivo foi a reclamação barulhenta e ameaçadora feita por alguns militantes organizados de uma torcida organizada.

Apesar da aprovação e prazer que milhares de torcedores demonstraram comprando a camisa, a direção corintiana cedeu às pressões, retardando a estréia e, depois, aposentando discretamente a roxinha. Diante de algumas cobranças nos últimos dias, o clube comunicou que a roxinha será usada mais uma só vez, em jogo contra o mesmo Fortaleza da estréia, e depois será aposentada.

Azar de quem comprou a roxinha e queria vê-la mais vezes em campo, como o meu primo.

Com o lançamento das duas novas camisas, o site oficial fez uma enquete e, para surpresa da direção de marketing (mas não dos torcedores), 18,25% dos torcedores disseram preferir a roxinha ao invés de qualquer uma das duas novas camisas.

Então, quem representa mais a vontade do torcedor corintiano? A meia dúzia organizada ou a massa que faz do Corinthians o time com a segunda maior torcida do Brasil e seu maior patrimônio?

Sabem os leitores deste Olhar Crônico Esportivo que admiro a gestão do Andrés Sanches, a quem vira e mexe elogio. Mas essa sua postura subserviente aos desejos desse pessoal organizado é decepcionante. Amigos por dentro das lutas políticas internas dizem que essa influência e as decisões de Sanches atendendo aos desejos do pessoal é apenas o pagamento do apoio político recebido antes da eleição.

Uma pena.

Azar do Corinthians que perde uma boa iniciativa do seu marketing e, pior que isso, fica refém da vontade de não se sabe quem e nem porquê.

Gritarias contra tudo e contra todos

Hoje, andando por São Paulo na hora do almoço, o rádio do meu carro estava sintonizado na Jovem Pan. Era o horário do Jornal de Esportes. Wanderley Nogueira chamou o repórter em Congonhas, esperando pelo desembarque do time do Santos. No ar, ouvimos sua tentativa de conversar com Marcelo Teixeira, presidente do clube.

Sem chance.

A gritaria de meia dúzia de militantes auto-denominados torcedores organizados impediu o presidente santista de falar. Ali estava uma turma braba, em pleno meio de um dia útil, dia de trabalho, supostamente, plantados por horas no aeroporto à espera do desembarque da delegação do seu... Hummmmmmmm... Do seu o que? Clube do coração? Sei lá, acho estranho esse pessoal ter clube do coração. Seja como for, gritaram, berraram, soltaram palavrões aos montes, inviabilizando toda e qualquer tentativa de entrevistar presidente, treinador, jogadores.

Lembro do São Paulo de alguns anos atrás, com um bando organizado atrapalhando o trabalho dos jogadores no Centro de Treinamento, jogando pipocas, gritando ofensas contra os jogadores.

O pior de tudo é abrir o jornal ou ligar a televisão e ver a imprensa referir-se a essas meias-dúzias de baderneiros como “a torcida” do time esse ou aquele. Esse pessoal não representa a torcida de clube algum, mas ao fazer barulho organizadamente e com a cobertura de suas badernas pela imprensa, ganham ares de representantes, de porta-vozes da torcida.

Não são.

O caso da roxinha é uma boa prova disso.

Mas, assim mesmo, diretorias diversas continuam cedendo aos seus desejos.

Por que?

A quem interessa manter esse povo em atividade?

Quem ganha o que com isso?

(Sabemos algumas das muitas possíveis respostas...)


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