Um Olhar Crônico Esportivo

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sábado, abril 26, 2008

Enfim, pontepretano, 31 anos depois


Cresci num meio corintiano.

Meu pai era são-paulino, assim como um dos meus tios maternos, mas todos os demais eram corintianos. Tinha um palmeirense, o tio Sílvio, inconfundível sobrenome Menossi, mas isso não quer dizer muita coisa, já que minha avó era uma Brassarotto e, mesmo com esse nome, era corintiana roxa.
Que nada tem a ver com a camisa bolada pelo marketing alvinegro, pois meu pai e meu tio Lacir eram são-paulinos roxos e continuamos a ser todos roxos, não importa se alvinegros, alviverdes ou tricolores.

No mais, todo o restante da família torcia pro Corinthians. Meus avós, meu tio caçula, outro tio que morava num fim de mundo chamado Vila Talarico, depois da Penha, depois até da Vila Matilde, ainda, e ir passar o domingo em sua casa era um acontecimento, com direito a dois ônibus, um do Ipiranga até o Parque Dom Pedro, outro direto pra Vila Talarico. Com esse tio, meu pai ia ao Parque São Jorge ver alguns jogos. Também fui algumas vezes, entretanto nada vi dos jogos, meu negócio era ficar encostado lá no alto da arquibancada de madeiras, olhando o rio e os barquinhos que por ali zanzavam; alguns arrastados pra margem, pro seco, pois tinha gente que ia assistir o jogo de barco. Pois é, o Rio Tietê tinha barquinhos naqueles distantes finais dos cinqüenta. O ponto alto daí ida ao estádio, além de namorar o rio e os barcos, era chupar um picolé, mordomia suprema da molecada pobre daqueles tempos.

Bom, e daí, o que tem a ver essas reminiscências familiares iguais às de tantos outros paulistanos com o título desse texto?

Tem a ver com 1977, tem a ver com a Ponte Preta.

São-paulino roxo como meu pai e meu tio – éramos as ovelhas tricolores da família – era mais que lógico que eu torceria pela Ponte ou, tão bom quanto, torceria contra o Corinthians em 1977. Sim, era o lógico, o racional, o correto, era o que se esperava de quem, como eu, ainda por cima havia sido membro da torcida uniformizada do São Paulo nos últimos meses de 69 e no começo dos 70.

Mas...

Toda história tem um mas ou mais de um, e essa não é diferente.

No meio do caminho não tinha a pedra do poeta, mas lá estavam meus avós, meus tios, meus primos, pombas, toda a minha família (bem, quase toda, não vamos exagerar), gente que esperava por um título há muitos, muitos anos.
A cidade parecia esperar pela mesma coisa também. Toda vez que lembro desse 77, lembro dessa sensação.

De um lado estava a Ponte Preta, time tinhoso, bom, perigoso, com jogadores que já tinham feito história e viriam a fazer ainda mais, como Oscar, Dicá, Carlos...

Do outro lado estava o Corinthians. Desculpem, não lembro a maioria dos jogadores, mas não importa nesse momento. Lembro de Basílio e isso basta para meu propósito. Ele e seu gol que foi, tenho a impressão, um grande alívio, até mesmo para mim, que torcia sem alarde, mas torcia. Meu pai também gostou. Como seria possível não torcer e não gostar vendo tanta gente da família, tantos amigos, felizes a mais não poder? Felicidade é coisa meio contagiante entre pessoas normais e naqueles dias todas as famílias foram mais felizes que o normal.

Não reparei na tristeza da Ponte e dos pontepretanos.

Acho que ninguém reparou.

Com certeza ela foi imensa, mas ninguém viu, ninguém ligou.

Talvez tenha sido melhor assim, certas coisas a gente resolve melhor ficando sozinho, sem ninguém por perto. Meio como bicho lambendo uma ferida. Não somos todos assim? Não? Bom, eu sou.

A Macaca curou suas feridas, continuou perigosa e logo depois, em 81, chegava novamente à disputa do título. Ah, mas dessa vez era contra o São Paulo.

Nesse caso, nem pensar, não havia o que pensar.

O tempo passou e a Ponte ficou sem título. Teve seus altos e baixos, mais baixos que altos, verdade seja dita, ora era mais perigosa, ora nem tanto. Nesse período torci muito por ela, mas foi torcida triste, torcida para evitar o rebaixamento. Deu certo uma vez, não deu certo uma segunda vez. Recordo a dignidade de Abel Braga ficando no comando, recordo Lauro deixando seu gol para atacar, recordo do alívio que foi ver a Macaca simpática permanecer na primeira divisão. Depois não deu, mas deixa pra lá, logo, logo, ela volta.

Depois de tudo isso, depois de tanto enchimento de lingüiça, chegamos, enfim, à razão de ser do título dessa crônica-confissão.

Hoje, sou torcedor da Ponte Preta.

Nada contra o Palmeiras, tudo a favor da Macaca.

Tá certo, serei honesto: confesso que há, sim, um pouco de raiva, um pouco de mágoa, pela derrota do São Paulo frente ao Palmeiras. Mas, também, que diabos, como não ter? Como diria moderno filósofo das noites na telinha, faz parte.

Finalmente, 31 anos depois torço de verdade para a Ponte, torcida alegre, torcida para ganhar, para ser campeão.

Meus avós já se foram, meus tios também, assim como meu pai. Tenho certeza que todos eles, se aqui estivessem, estariam torcendo pela Macaca, tal como eu e, vai lá saber eles não estão fazendo isso nesse exato momento, em lugar incerto e não sabido por nós, meros mortais?

Então, é isso aí!

Vamos, Ponte, dessa vez estamos todos contigo!

E assim tiro 1977 da minha lista de contas a pagar.


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2 Comments:

  • At 12:08 PM, Blogger Vinicius Grissi said…

    Estão abertas as inscrições do Bolão Marcação Cerrada do Campeonato Brasileiro.

    Cadastre-se e participe.

    Grande abraço!

    http://cerrada.blogspot.com

     
  • At 12:34 PM, Anonymous Anônimo said…

    brasil x argentina, libertadores é isso, é igual copa do mundo ou uefa, sao os favoritos que sempre chegam os outros sao zebras.

     

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