Sobre Brasil x França - Uma Visão Prévia
É impossível fugir: a primeira coisa que vem à mente é a vontade de vingar 98. Devolver a estranha e acachapante derrota por três gols. Aquele foi um dia muito ruim para nós.
Depois, e nesse caso para quem nasceu antes de 74, 75, vem o desejo de vingar a derrota nos pênaltis, em 86, no México.
Só depois de tudo isso, e mesmo assim limitado aos mais velhos, que nasceram antes da Guerra da Coréia, vem a doce lembrança dos 5x2 sobre a França na Copa da Suécia, em 1958. Para mim esse jogo é literatura, não o vivi, pois nasci em 54. Minha primeira Copa, de fato, foi a de 1970. Da tragédia de 1966 lembro, bem, da derrota humilhante e dolorida para Portugal e da temporada de caça a Pelé, aberta pelos búlgaros e fechada por Vicente, botinudo zagueiro português que tirou Pelé de campo.
Lembranças de batalhas ganhas e perdidas. Lembranças de grandes jogadas. Sim, isso tudo vem à mente, também.
E como serão as coisas nesse próximo Brasil x França?
Eu estaria mais confiante numa vitória se Parreira tivesse criado – isso mesmo, criado – um time mais bem armado, com variação de jogadas, com jogadores mais capacitados a disputar os quase 100 minutos de uma partida de futebol moderna, onde a condição física do atleta é fundamental não só para a disputa, propriamente, mas também para a exibição de sua técnica, de sua habilidade, de sua arte.
E nesse ponto o Brasil me preocupa. Não creio que com essa escalação sejamos competitivos contra as grandes forças do futebol mundial. Cafu, Roberto Carlos, Emerson e Adriano não apresentam condições físicas ou futebol ou compatibilidade para formar no time titular. Adriano é bom atacante, mas em sua posição mais confortável atrapalha o jogo de Ronaldo; e entre um e outro, sou mais Ronaldo, tranquilamente. Emerson está lento e, na seleção brasileira, nunca chegou a ser o meio-campista da Juve que chega ao ataque com freqüência e propriedade. E a marcação, que tem sido seu ponto-forte há anos, não está boa, pois está marcando à distância, dando liberdade de ação para os adversários. Contra Zidane ou Henry, por exemplo, isso poderá ser fatal. Cafu é grande. Isso não se contesta, mas nesse momento sua presença como titular enfraquece o ataque e não fortalece a defesa. Seu futebol sempre foi baseado em pouca habilidade, uma técnica entre razoável e boa, muito vigor, extremo vigor físico e vontade, carisma, liderança. Agora, ele já não apresenta o vigor físico de outrora... E Roberto Carlos não tem jogado. O que se vê em campo é um arremedo do grande lateral do passado. E é na sua área de campo que deverá deslocar-se Ribéry.
A defesa do Brasil não foi testada. Vem sendo muito elogiada, até demais da conta, na minha visão, sem ter passado por um teste significativo. Eu imaginei que esse teste fosse enfrentar Gana, mas enganei-me, os ganeses foram pífios, mas mesmo assim criaram várias oportunidades de gol, jogadas fora em sua maioria. É uma defesa que me preocupa, inclusive o goleiro Dida.
E o meio-campo... Ah, o meio-campo... Se Emerson deixa a desejar, Zé Roberto tem, por outro lado, jogado muito bem. Resta ver como será contra um grande time, com grandes jogadores. E aí chegamos a Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Não vejo Kaká à vontade no time, com um papel bem marcado. E pior, quando entra Juninho ambos se confundem, o que é natural, já que Parreira não treina formações diferentes. Os treinos são usados como intervalos recreativos mentais e físicos, meras brincadeiras e pretexto para fazer batucada na ida e na volta. Claro, estou exagerando, bem sei, mas sei, também, que minhas palavras, se não exprimem a situação real, estão bem próximas disso. Ao lado de Kaká, a outra jóia da coroa brasileira, Ronaldinho Gaúcho, em nenhum momento conseguiu jogar metade do que joga em seu time. se está melhor que ele, Kaká também não vem jogando o que pode e o que joga no Milan.
Finalmente, o ataque, onde fica a outra jóia da coroa tupiniquim, Ronaldo. Esse não me preocupa. Começou mal a Copa, é bem verdade, mas ele sempre foi merecedor de uma aposta firme e constante. Afinal, mesmo se entrar em campo com um pé engessado e uma muleta, terá no mínimo dois marcadores o tempo todo ao seu redor. Em muitos casos, três marcadores. O que mais se pode esperar de um atacante num jogo que tem em seu nome de origem a palavra “association”? Com Adriano na frente, ao invés da sinergia teórica resultante da presença de dois artilheiros, grandes e fortes, temos uma dispersão de energia e o ataque não funciona. Com Robinho, que ainda não é, mas breve será a quarta jóia de nossa coroa, tudo flui mais naturalmente, mais espaços e mais jogadas, principalmente, são abertos uns e criadas outras. Ronaldo passa a ter mais opções de deslocamento e de troca de bolas.
Tudo isso chegaria perto do ideal teórico com as entradas de Cicinho e Gilberto nas laterais, e Gilberto Silva ou Mineiro no meio-campo. E ainda teríamos a possibilidade de Juninho para o meio, eventualmente no lugar de Zé Roberto. Ou no lugar de Adriano, dando-se total liberdade para Ronaldinho, caso Robinho não possa jogar.
E do outro lado?
Um time envelhecido.
Sim, um time envelhecido, mas não morto, como se chegou a pensar. Longe disso. Talvez um time com um envelhecimento do tipo que faz um bordeaux ganhar alma, estrutura, qualidade. Um time que pode ser terrível, pois tem Zidane, tem Vieira, tem Henry e apresentou Ribéry. A França é, sim, um time de respeito. E será ainda mais se Trezeguet fizer companhia a Henry. Eu realmente não confio na defesa brasileira e diante de uma dupla como essa, confio menos ainda.
Há uma incógnita, porém. Como jogará a França contra o Brasil? Confiante e segura de suas possibilidades ou, como faz a maioria absoluta dos adversários do Brasil, exceto a Argentina e a Itália – essa pelo seu jeito italiano de jogar –, temerosa e preocupada em proteger sua meta? Chega a ser curioso como grandes seleções se transformam diante do Brasil e atuam como times menores.
Creio que o Brasil vencerá porque, apesar dos problemas, vem apresentando uma evolução consistente, embora muito longe do que pode apresentar. Mas se a França entrar em campo confiante e ofensiva, temo pelo resultado. Apesar das constantes faíscas de genialidade que saem dos pés de Ronaldo, Kaká e Ronaldinho. E talvez de Robinho.
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Marcadores: Copa 2006
1 Comments:
At 3:31 PM, Anônimo said…
Supongo que Francia planteará el partido a Brasil como a España, tratando de blindar a Barthez y de cazar contragolpes. Pero Brasil no es España y sabe jugar estos partidos. No espero el "jogo bonito" pero sí que no deje a Francia maniobrar como hizo con Australia o Ghana. Si lo hace le costará caro porque Henry tampoco es Gyan.
Ojalá que Parreira se dé cuenta que beneficia más al equipo el vigor de Gilberto Silva que los galones de Emerson, al que se ve muy cansado. Ronaldo tiene una cuenta pendiente con Barthez y los demás, y Ronaldinho debe aparecer. Si el partido se atasca siempre queda el recurso de Juninho.
En 1998 Brasil jubiló a Laudrup y espero que hagan lo propio con Zidane. Y que ganen el Mundial.
Un saludo desde Barcelona ;)
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