Um Olhar Crônico Esportivo

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quarta-feira, julho 05, 2006

Segue a Copa lá e cá

Um novo ciclo?


Para facilitar nossa pobre compreensão da natureza, dividimos e esquematizmos o que é único. Mas é bom isso, não nego. Dessa forma, pegamos o Oxigênio e criamos o seu ciclo. E assim fizemos com o Nitrogênio, o Carbono, a Água...

Esses esquemas didáticos nos mostram renovação e reciclagem como coisas naturais, normais e desejáveis na natureza, onde nem a morte significa imobilidade.

Em recente comentário a um dos posts, o Csai, amigo blogueiro do Lluvia Blaugrana, disse acreditar que é bom para o futebol que existam ciclos, e, por dedução, o futebol entraria agora num novo ciclo com a eliminação do Brasil ainda nas quartas.

Concordo. A rigor, a presença do Brasil numa quarta final consecutiva não seria mesmo muito saudável para o futebol. Mas se acontecesse por justiça e plenos méritos esportivos, com o Brasil jogando o futebol que todos esperavam que jogasse, paciência. Se assim fosse, ninguém reclamaria como ninguém reclamou do favoritismo exagerado e absurdo que tinha o Brasil antes da Copa começar.

Um simples treino numa cidadezinha suíça ou alemã chegava a ter mais de mil jornalistas credenciados! Absurdo, completo absurdo.

O Brasil perdeu, o Brasil foi eliminado. Quem gosta de futebol aqui no Brasil, está rezando para que essa eliminação signifique o início de um novo ciclo para o futebol brasileiro. Um ciclo que, para mim, não deve ter Parreira, Zagallo e suas concepções pequenas de futebol. Quem sabe temos sorte e começamos, de fato, um novo ciclo?

(Coisa que parece difícil. Enquanto Pekerman teve a grandeza de demitir-se, Parreira não o fez e Zagallo fez pior: disse que quer ficar. Valha-nos Deus, valham-nos todos os deuses dos estádios.)

Reações


Pobre Cafu... Cafu começou no São Paulo, portanto, acompanho sua carreira desde juvenil, ainda. É um cara sério, honesto – apesar do imbróglio com o passaporte italiano – e que não merece as ofensas que tem recebido. Críticas, sim, merece-as, tal como merecem críticas Roberto Carlos, Ronaldo, Ronalidinho, Kaká...

Mas não ofensas. As pessoas esquecem, e os jornalistas também, que por trás de Cafu há uma trajetória vitoriosa e bonita. Há um cidadão que sempre foi exemplar como amigo, marido, pai e hoje, com bom saldo bancário, investe parte de seu dinheiro, tempo e preocupação, numa fundação que faz um bonito e útil trabalho com crianças pobres na periferia de São Paulo.

Mas a raiva popular, da qual os jornalistas tomam posse e que os jornalistas estimulam, é exagerada e mal dirigida. Não vou falar de Roberto Carlos. Há anos ele não joga mais um futebol bom o bastante para merecer a seleção. E há anos que ele fala mais do que deve e fala bobagens, fala besteiras, inclusive agredindo verbalmente ninguém menos que Pelé. Roberto Carlos é um tonto. Basta, já falei dele mais do que queria. Aliás, nem queria.

E a raiva explode, também, sobre Ronaldinho. Sobre o Ronaldinho Gaúcho, para não confundir com o outro. Por que? Que culpa teve ele?

Perguntas difíceis para respostas idem.

Ronaldinho é um craque, sem dúvida. Mas ainda não atingiu o patamar de alguns grandes jogadores do passado. Um craque mítico chama para si a responsabilidade de grandes jogos e os resolve. Mesmo no Barca eu não vejo Ronaldinho fazendo isso. Parece-me que ele, para brilhar intensamente, precisa de uma equipe organizada, com bons jogadores ao seu redor e liberdade para jogar seu jogo, seu futebol.

Na seleção brasileira Ronaldinho sempre teve grandes jogadores ao seu redor. Mas nunca teve uma equipe organizada, entrosada de fato, e nunca teve a liberdade que precisa. E não lhe basta a liberdade. Ela precisa estar acompanhada de espaços e deslocamentos. Ora, nos últimos anos, com exceção de um ou dois jogos, nada disso existiu na seleção do Brasil: espaços, deslocamentos, liberdade para jogar.

Sou repetitivo, sou chato e sou ignorante sobre futebol, porque volto, como sempre, ao mesmo ponto, à mesma origem: Parreira. Não só ele, mas também Zagallo e Scolari. Treinadores que sempre pegaram os jogadores e enfiou-os dentro de esquemas de jogo criados por suas cabeças. Esquemas onde, sempre, o importante é não tomar gols e vencer. Como disse o infeliz Parreira, “show é ganhar”, não importando como.

Ora, supondo que eu esteja total ou parcialmente certo, a grande massa de torcedores não pensa sobre futebol, simplesmente torce. E deixa-se levar pelos narradores, pelos comentaristas, pelas manchetes de jornais. E pelos comerciais de tênis e refrigerantes que a televisão mostra minuto a minuto. Ah, sim, e pelas jogadas geniais que a televisão mostra infinitas vezes e pelos prêmios e elogios. A massa torcedora fica inebriada por essas coisas.

Mas tudo isso é exagerado. As jogadas de sonho dos comerciais, como disse um blogueiro espanhol dias atrás (Diego, me parece), são repetidas duzentas vezes, e acontecem depois de muitos “corta” e “ação”. Bem sei disso, é meu trabalho, mas cinema é ilusão e o torcedor se ilude com o que vê. E imagina ver tudo aquilo em pleno jogo, em todo jogo, em todas as jogadas. Mas isso não acontece, é impossível. E vem a desilusão e a sentença: na seleção não joga como no Barça. E não enxerga que tampouco a seleção joga como o Barcelona, não em qualidade, mas em esquema e tática. Os jornalistas, em sua maioria, apenas repetem o óbvio: não joga na seleção como joga no Barcelona. E pior: durantes meses e meses, durante anos, para ser mais exato, o torcedor brasileiro leu e ouviu que “2006 será a Copa de Ronaldinho”.

Ronaldinho está em forma, não está machucado? Ótimo, já somos hexacampeões, é só dar a taça para Cafu levantar e dar a Ronaldinho o troféu de melhor da Copa.

O resto é só detalhe. Ganhar sete jogos? Piece of cake! Mera brincadeira.

Isso não era arrogância, era só uma crença tola alimentada anos a fio.

Mas a seleção falhou vergonhosamente. E digo vergonhosamente porque não houve luta, como os argentinos, espanhóis, ingleses e, ontem, os alemães. Houve entrega, o Brasil se entregou à França, simplesmente. E isso doeu muito em todas as pessoas. Nessas horas, a reação normal do ser humano é procurar alguma coisa ou alguém a quem culpar. Freud, Jung & Cia. explicam isso muito bem e minhas leituras de orelhas de livros de psicologia não me permitem discorrer a respeito. E nem preciso.

Parreira não tem a mesma visibilidade e força no imaginário popular. Tampouco Cafu e Roberto Carlos. Sobrou, portanto, para Ronaldinho Gaúcho.

Mas isso passará.

Surpreendente!


Para mim, essa é a descrição resumida de Alemanha x Itália.

Surpreendentes, tanto a Azurra como Marcelo Lippi, que escalou um time ofensivo desde o começo. E, na prorrogação, voltou a surpreender, ao deixar o time ainda mais ofensivo, com Del Piero em lugar de Camoranesi.

Um jogo bonito, mesmo sem gols no tempo normal. Houve muita vontade de parte a parte, situações de gol, grandes defesas, chutes errados no momento decisivo, enfim, tudo que faz do futebol o mais emocionante e o mais diferente dos esportes. E, por tudo isso e muito mais, o esporte mais popular do planeta.

Nesse momento, não há como negar, a parte Brassarotto do meu sangue se impõe: Forza, Azurra!

...

Parece que estou vendo um filme repetido: o futebol italiano em crise, a justiça da Itália condenando times, dirigentes e árbitros, e, na Copa, uma seleção começando meio desacreditada e crescendo jogo a jogo... Eu já vi esse filme, sim. Foi em 1982.


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2 Comments:

  • At 11:40 AM, Anonymous Anônimo said…

    Sou muito novo pra lembrar de 82, mas pelo que sei da história, tá iguazinho mesmo. Tomara que perca pro Felipão, só pra nossa supremacia nao ser ameaçada.
    E o lance o Zagalo foi ridpículo, velho gagá querendo se perpetuar na seleção. Pro inferno!
    e valeu o comment lá no blog.
    E Vamos SP!!!!!
    Abraço

     
  • At 5:57 AM, Anonymous Anônimo said…

    Gracias por la mención Emerson.

    Sobre lo que dices de Ronaldinho. ¿Crees que sería posible montar un equipo brasileño al estilo del Barca? LEia en alguna parte que en Brasil faltaban jugadores de movilidad en el ataque, tipo Eto'o o Giuly. Ronaldo está practicamente estático, y Adriano es un tanque que no sabe jugar al espacio.

    Brasil es grande, pero me resulta curioso que sus mundiales en Francia y en Alemania coinciden en algo. La desmedida campaña de publicidad de Nike. Endiosan a los jugadores de una manera absurda.

     

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