Um Olhar Crônico Esportivo

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domingo, julho 02, 2006

Brasil, Fim de Copa


Bom dia.

Não importa se você esta lendo isso pela manhã, tarde ou noite, fica o desejo de um bom dia, de bons dias pela frente.

Dormi bem, em paz, sem maiores preocupações ou aborrecimentos, ao contrário do que acontece em derrotas importantes do meu time do coração – e à medida que envelheço, descubro que meu time é mais do que simplesmente “do coração” – mas essa é uma outra história. Dormi muito bem ao contrário, também, da noite que se seguiu à nossa trágica e triste derrota para a Itália, em 1982. Talvez porque, no íntimo, nunca consegui enxergar esse time campeão. Talvez porque esse time nunca tenha, realmente, jogado como campeão, nunca tenha demonstrado ser em campo o que era no papel, nas palavras, nos comerciais de televisão.

Falar isso agora é fácil. É, é mesmo fácil, mas eu, pelo menos, venho pensando e escrevendo isso há bastante tempo, e estou certo que por causa desse exercício antecipado de “pessimismo” – ou de realismo – eu tenha dormido bem e em paz. Foi muito pior no dia em que o São Paulo perdeu para o Chivas Guadalajara em pleno Morumbi, depois de uma invencibilidade de 19 anos e 32 jogos em nossa casa.

Galvão Bueno é o melhor e um dos mais experientes locutores esportivos da televisão brasileira. É amado por muitos, entre os quais me incluo, e odiado por parcela quase igual. Não se pode negar, porém, sua experiência e conhecimento e ontem, enquanto a telinha mostrava os jogadores do Brasil sorrindo e brincando no túnel de acesso ao gramado, com troca de beijinhos com Zinedine Zidade, o capitão da França e o único a participar da confraternização, Galvão dizia de seu posto que não gostava daquilo, aquele era o momento de semblantes sérios de jogadores concentrados no jogo que viria a seguir. Era o momento de estar “com a faca nos dentes”. Embora amante ao extremo do fair play, não só no jogo, mas em toda e qualquer atividade humana, eu penso da mesma forma: antes da disputa não há o que confraternizar, apenas os cumprimentos de praxe e vamos à luta. No jornal de hoje, um ex-técnico da própria seleção diz a mesma coisa e conta do mesmo estranhamento com relação à cena da véspera.

E foi assim que entramos em campo.


O jogo no 1º tempo

Gostei dos primeiros dez minutos. E só. Foi a única parte do jogo da qual, como torcedor do Brasil, pude gostar, porque depois disso meus piores temores começaram a se tornar realidade.

A seleção francesa adiantou sua marcação e o Brasil ficou perdido, sem saber o que fazer, de forma literal. Tanto ontem como hoje, jornalistas das mais diversas linhas e tendências são unânimes em escrever “Kaká errou muitos passes”. Não vi ninguem, entretanto, escrevendo o porque dessa obviedade: o time do Brasil ficava imóvel, como se fosse uma equipe de pebolim, e apenas um jogador se deslocava para receber a bola e distribuí-la, justamente Kaká. Não foi a primeira vez que isso ocorreu, foi somente a quinta vez. E não por coincidência, foi o quinto jogo da seleção na Copa. Ah, mas houve, sim, uma exceção, que foi o jogo contra o Japão, quando Kaká recebia e muitas vezes tinha Cicinho ao lado para poder dialogar futebolisticamente, e não com beijinhos e brincadeiras. Ontem, não havia ninguém, como de hábito.

Enquanto a França ocupava todos os espaços, tirando-os do Brasil, portanto, com os deslocamentos inteligentes e treinados de seus jogadores, com um volante – Vieira – chegando à frente com ímpeto e habilidade, os jogadores brasileiros permaneciam estáticos. Algumas tomadas abertas de uma das 25 câmeras de tevê, mostram isso de forma didática. Sem ter com quem jogar, Kaká perdia a bola ou errava o passe. Outras vezes, o goleiro Dida, sem ter com quem jogar – é normal todo o time ficar de costas quando ele tem a bola, um absurdo, para dizer o mínimo – dava um improdutivo chutão para a frente, para o nada, para o domínio francês.

Quando um jogador brasileiro tinha a bola nos pés, era imediatamente assediado, acossado de perto, junto mesmo, por dois ou até três marcadores. O resultado era a perda da bola, ou o passe errado e a perda da bola, ou o passe mal-feito e a perda da jogada, ou o passe possível e sem perigo para o lado ou, geralmente, para trás.

Quando um jogador francês tinha a posse da bola, e principalmente Zidane, não havia assédio. De um lado, Ronaldinho Gaúcho cercado por três, e até sem necessidade, diga-se de passagem, e de outro Zidane, livre, leve, solto, tranqüilo e criativo. O “velho” Zidane que deu-se ao luxo de aplicar dois chapéus – alguns, com vergonha, preferiram chamar de lençol, por ser menos humilhante e amenizar a verdade – no meio-campo, quando o jogo já estava em 1x0. Em momento algum Zidane foi realmente marcado. E o pior de tudo, o mais incrível, inverossimel, mesmo, foi ouvir Parreira, depois do jogo, dizer que Zidane foi bem marcado. E pior, conceitualmente: “o Brasil não marca individualmente”.

Atentem para essa frase: “o Brasil não marca individualmente” e pensem a respeito dela e do que ela revela.

Não, minha gente, o que ela revela é simples: o Brasil é bom demais e superior demais aos outros para destacar um jogador só para marcar um adversário, pois não há ninguém tão bom assim fora do nosso time. Acham que estou exagerando? Pois sim.


O jogo no 2º tempo

Ah, esse foi um tempo bem diferente do 1º.

Começou com a França perdendo um gol feito aos quarenta segundos de jogo. Mas na seqüência o Brasil deu uma idéia do que era o Brasil e dominou o jogo completamente, por exatos quatro minutos e meio. Foi o que bastou para a França reencetar a marcação na saída de bola brasileira, tirar os espaços e matar a seleção cinco vezes campeã mundial novamente.

Pouco depois a França fez 1x0, em falha grotesca da defesa, que teve seu ponto máximo em Roberto Carlos acertando a meia enquanto a bola voava sobre a área para Henry, sem marcação, desvia-la de cabeça para o fundo do gol de Dida, perdido no lance.

Passados os trinta minutos, Parreira, um dos profissionais mais bem pagos do mundo – e que menos trabalha – tirou Cafu, uma triste sombra do que já foi, e colocou Cicinho. Era tarde. Já tinha tirado o inútil e perdido Juninho, que saiu para a entrada de Adriano, quando o óbvio já era entrar Robinho, que entrou por último no lugar de Kaká, aquele que corria e que começou o jogo sem estar no melhor de sua condição física, pois vinha de recuperação de lesão.

Fim.

Fim, já? Só isso?

Sim, só isso. O 2º tempo foi só uma cópia do 1º, nada mais. Fim.

Esse “fim” começou há bastante tempo, não agora. Em raríssimos momentos a seleção treinada por Parreira nos encantou e, mais importante, nos convenceu. Por todo o mundo e aqui também, as pessoas imaginavam o Brasil campeão por conta das performances maravilhosas de Ronaldinho, no Barcelona, de Kaká, no Milan, pelo passado de Ronaldo, pelo presente de Dida, Lucio, Juan, Emerson, Adriano, pelos nomes de Cafu e Roberto Carlos, pelo futuro de Robinho.

Todavia, essas grandes performances em clubes não se repetiram na seleção.

Parreira sempre reclamou não ter tempo para treinar. Ah, mas que tempo teve Klinsmann? Ou Felipao? Ou Domenéch? Ou Aragonés? Ou Pekerman? Todos tiveram o mesmo tempo que ele. E nenhum outro treinador tinha tantos e tão bons jogadores à disposição como Parreira.

O time da Copa chegou à Suíça e treinou... Treinos tolos, bobos, infantis, nenhum treinamento sério, com alternativas de formação, alternativas de jogadas, nada disso. Desde o começo havia uma auto-suficiência doentia e cega. O Brasil teve problemas contra a Croácia, contra a Austrália e contra Gana. O Japão marcou primeiro, na única vez que tivemos um arremedo de time competitivo.

O Brasil me lembrou aquele menino espanhol do comercial de tevê, que escolhe meia dúzia de craques e manda-os a campo. Vão e resolvam, vocês são craques! Que pobreza! Ganhar mais de dois milhões de euros por ano para isso? Bom, eu me ofereço por duzentos mil euros por ano, ou até por cem mil.


O que faltou

Eis algo para se pensar: o que faltou ao Brasil de Parreira?

Eu só encontrei uma resposta: faltou Roberto Baggio.

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3 Comments:

  • At 7:38 PM, Anonymous Anônimo said…

    Parreira nunca fue muy amante del Jogo Bonito, es más se lo critico mucho en el 94 también.
    No me explico como Ronaldinho no jugó bien ni un partido, es algo increible, cuando llegaba con el cartel de El mejor del Mundo.

     
  • At 7:39 PM, Anonymous Anônimo said…

    Ahora quedo todo entre europeos.
    ¿Con quien son más duras las críticas en Brasil, con Ronaldinho o Parreira?

     
  • At 2:27 PM, Anonymous Anônimo said…

    @Emerson

    Yo siempre fui muy escéptico con la presencia de Cafú y Roberto Carlos en el equipo titular. Respeto su jerarquía, pero ya viste cómo se comió el gol de Henry. ¡ESTABA SOLO HENRY! Yo creo que BRasl tiene que estar muy desilusionado, pero si se piensa friamente. es muy difícil que se lleguen a cuatro finales consecutivas. Creo que es bueno para el fútbol que se cumplna ciclos.

    Veremos quién gana. Apuesto por una sorpresa de Portugal.

     

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