Um Olhar Crônico Esportivo

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segunda-feira, julho 10, 2006

Foi boa?

Sim, foi boa.

Mas como pode ter sido boa? Todo mundo está gritando que foi uma péssima Copa, o nível técnico foi baixo, a média de gols por partida só foi superior à da Copa de 90...

É, a média de gols foi baixa mesmo. Em parte porque ataques tidos como poderosos fracassaram. Em especial o ataque do Brasil. Mas eu não diria que o nível técnico da Copa foi baixo.

Essa copa teve, a rigor, uma só goleada, perpetrada por um dos Campeões contra um time que era tido e havido antes da Copa como bom, um bom representante do futebol europeu – foi a vitória da Argentina contra a Sérvia e Montenegro. Tivemos alguns outros resultados com 4 gols, e, mesmo esses, não tiveram como vítimas apenas países não-tradicionais. E alguns deles foram frutos de situações atípicas, como a vitória da Espanha sobre a Ucrânia por 4x0.

E por que teria acontecido isso, essa baixa média de gols por jogo?

Há várias respostas, mas vou fixar-me naquela que, a meu ver, foi a mais importante e significativa: o futebol evoluiu em todo o mundo.

A frase já velha e batida de boleiros dizendo que “não existem mais bobos no futebol”, é verdadeira. Basta ver, por exemplo, o caso da Venezuela aqui na América do Sul. E foi essa evolução dos países não-tradicionais que levou a um menor número de gols em 2006.

Porque, como é natural, esses países evoluem a partir de sistemas fortemente defensivos, já que é mais fácil defender do que atacar, na visão geral. E é mesmo, uma defesa para ser mais ou menos não precisa de Cannavaros, mas um ataque para ser mais ou menos precisa muito mais do que dois postes nas proximidades da área adversária.

Fomos, os brasileiros, abençoados por um conjunto de fatores que nos levaram a produzir grande quantidade de grandes jogadores. Graças a Pelé, Garrincha, Leônidas, Zizinho e outros, habituamo-nos ao gol como algo simples e natural.

Mas não é bem assim na vida real. O gol é conquista árdua, é objetivo difícil, principalmente quando há correlação de forças. O futebol para ser mágico, apaixonante e o principal esporte do planeta, não precisa de gols em profusão e banalizados, precisa de disputa árdua. Quanto mais difícil a vitória, mais ela é celebrada. E quanto mais fácil, mais rapidamente é esquecida.

Então, sim, tivemos poucos gols, mas não porque os ataques falharam, (o único caso foi o da seleção de um país muito grande e muito bobo), e sim porque deixamos de ter aqueles times inexpressivos que não sabiam jogar futebol, tremiam e perdiam por goleada.

Essa época acabou. Graças ao trabalho da FIFA e à globalização, o futebol evoluiu em toda parte. Hoje, jogar contra Austrália, Costa Rica, Venezuela, Arábia, Coréia, Japão e muitos outros países, inclusive muitos africanos, pode ser difícil. Muitos deles armam bons esquemas defensivos, que dificultam a penetração na área e a troca de passes e a preparação das jogadas no meio-campo e na intermediária.

E com outro fator importante: muitos jogadores desses países emergentes no futebol, já jogam na Europa por times de primeira divisão da Espanha, França, Portugal, Itália, Alemanha, Inglaterra... E eles transmitem parte de sua experiência para os companheiros e para os novos jogadores.

Dotados de bom preparo físico – novamente, aqui, o dedo da FIFA – seus jogadores correm bastante e marcam os adversários mais em cima, conseguem reduzir os espaços para os adversários. E partem velozmente em contra-ataques. Ainda não sabem fazer isso direito, mas vão aprender, estão aprendendo. Essa Copa continuou nos mostrando alguns exemplos. Em 2010, na África do Sul, as grandes potências futebolísticas encontrarão dificuldades ainda maiores.

Por isso, foi, sim, uma boa Copa do Mundo. Talvez não bonita, mas foi boa, foi tecnicamente boa.

E agora, de volta ao Campeonato Brasileiro e à Libertadores.

De volta ao sonho de voltar ao Japão em dezembro e conquistar o 4º título, uma vez mais em cima do Barcelona.

De volta à vida real. Copa, agora, só em 2010.

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