O mundo mudou.
Disse um poeta há 500 anos:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança.
Tomando sempre novas qualidades.”
Uma profética antevisão disso tudo que está aí. Aqui, sem aspas, já que nem um poeta como o autor desse verso poderia antecipar “isso tudo que está aí”.
O futebol, como não poderia deixar de ser, mudou.
Os jogadores estão mais velozes e mais fortes.
Por conta da maior velocidade e maior resistência física, os espaços ficaram reduzidos, em muitos jogos nem se vê algo como “espaço para criar”. Mas, móvel e fluido como é, o proprio jogo se encarrega de criar espaços. Entretanto, tão logo alguém se assenhore dessa avis rara, surge um, surgem dois ou mais oponentes a combate-lo, dividindo o espaço.
À maior velocidade dos atletas precisa-se contrapor a maior velocidade de raciocínio e execução. Essa velocidade, todavia, é elevada em poucos que, também por isso, são chamados de craques, e até de gênios. E mesmo eles gostariam, e geralmente precisam, de mais tempo para ver, enxergar, imaginar, processar e, só então, efetuar a jogada.
Temos, então, duas variáveis: espaço e tempo. A primeira variável é até mais complexa, pois ela ora ocorre aqui, ora ali. Vai depender do ritmo do jogo.
Ambas de difícil controle prévio. O ideal, portanto, é que o time – conjunto de atletas com, supostamente, um só objetivo – já saiba de antemão como se comportar espaço a espaço, segundo a segundo, no decorrer de um jogo de futebol.
É aqui que entra, ou deveria entrar, o papel do técnico. Um sujeito que vai pensar o jogo antes, antever as características e possibilidades de sua equipe e do adversário. Alguém que conhece os jogadores dos dois lados, sabe como atuam, o que podem render. De posse dessas informações, ele monta seu time a partir dos pontos e princípios que imaginou. E vai treinar e orientar esse time para que, no momento certo, seu jogador possa entregar a bola a um companheiro sem precisar parar, olhar, pensar. Pois entre uma vírgula e outra o adversário já tomou a bola ou apertou a marcação.
Comecei a ver futebol numa época maravilhosa, na transição entre o velho futebol jogado até o final dos anos sessenta, e o moderno futebol, apoiado em pesquisas científicas, em preparação física mais esmerada. Posso dizer que tive sorte.
Mais que sorte: tive a felicidade incomparável de ver Pelé jogar num estádio várias vezes. Vi Gerson, Rivelino, Pedro Rocha, Ademir da Guia e muitos outros, grandes astros, grandes jogadores, tanto brasileiros como estrangeiros.
Era um futebol em que o papel do técnico, tenho quase certeza, era menos importante que hoje. Os grandes jogadores, geralmente, resolviam os jogos. Mas, passou, vivemos novos tempos.
Mudou o futebol, mas continua belo e apaixonante, não perdeu nada, absolutamente, da emoção que sempre o cercou. A mídia global, a comunicação de massa instantânea, a globalização, nada disso afetou para pior o futebol. Pelo contrário, digo, sem medo, que tornou os jogos ainda mais emocionantes, apaixonantes.
E as mudanças continuam ocorrendo, e de novo me valho do antigo poeta maior:
“E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.”
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Marcadores: Crônicas
4 Comments:
At 6:53 PM, Anônimo said…
Seu Emerson.
Brilhante texto.
Muito bom mesmo.
Eu entendo, inclusive, que o técnico de futebol hoje em dia trasncende essa necessidade tática, técnica e disciplinar. Quase tudo, em todos os segmentos, passa por ele. Por isso, se vc espremer, acabam ficando os com personalidade mais forte, oque que nao tem medo, nem pudor. Basta olhar o cenário nacional. por isso Klinsmann foi tao cativante...
At 1:35 AM, Anônimo said…
Quem preenche bem este perfil de rapidez de raciocínio é o Dário Lourenço, que mais uma vez, foi injustiçado pela CBF.
At 8:51 AM, Anônimo said…
Emersom você tem talento com as palavras.Hoje está menos amargo, ou mais doce.
Ontem seu humor estava negro.
Acho que hoje em dia o futebol virou um negócio que precisa de lucros. Lucros = Resultado. Por isso a importância do técnico.
Mais tarde tentarei ser mais argumentativa. Diante de um texto poético é necessário com comentário mais detalhado.
Pow é a 3ª vez que digito estes malditos códigos!!!!
At 8:11 PM, Anônimo said…
Eu não esqueci do texto não.
Eu acho que até inicio dos anos 80, futebol não era visto como este negócio que pode gerar mutas riquezas, prestígio, marketing, publicidades e etc.
Hoje é visto desta forma amigo Emersom,para tanto, a necessidade de colocar na mente do atleta que ele é parte disso. E quem fará isso, em campo entra a figura do técnico. Cobra-se dele, acima de tudo resultados positivos.
Boa sorte pro teu Sao Paulo, vai precisar.
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