Custos de um estádio
Morumbi: faturamento em 2005
Em 2005 o São Paulo foi Campeão da Libertadores. Isso significou que o time jogou sete vezes no Morumbi, todas com grandes lotações e com valores mais altos para os ingressos. Na final, o ingresso mais barato custava cinqüenta reais, e a metade disso para estudante (ou portador de uma “carteirinha de”).
Esse excelente desempenho esportivo da equipe influiu fortemente na receita de bilheteria, que atingiu o total de R$ 13.651.000,00.
Além dessa receita, o Estádio Cícero Pompeu de Toledo gerou, também, outros R$ 7.930.000 na forma de receitas com publicidade, franquias, aluguel para eventos e cadeiras cativas e camarotes, atingindo uma receita total no ano de R$ 21.581.000,00.
As despesas geradas com o estádio chegaram ao total de R$ 4.754.000,00. Deduzidas essas últimas, teríamos uma receita líquida mensal média na faixa de R$ 1.400.000,00.
Convém ressaltar que isso é receita líquida, não lucro, pois sobre esse valor ainda incidem alguns impostos.
Todos esses números foram tirados ou deduzidos do balanço de 2005. Como o balanço de 2006 está prestes a sair, provavelmente atualizarei esses números, que, graças à presença em mais uma final de Libertadores, shows musicais e às boas rendas finais do Brasileiro, deverão ser bem maiores e, portanto, mais atraentes. Mas, de momento, esses números já se prestam muito bem para o que pretendo mostrar.
Projeto MSI/Corinthians
Ou Projeto Berezovski/Corinthians, que é o mais provável.
Há alguns dias o presidente corintiano foi recebido pelo presidente Lula da Silva. Além dos salamaleques de praxe, Alberto Dualib sondou o presidente sobre um possível empréstimo do BNDES para a construção de uma arena multiuso
Essa pretendida arena teria capacidade para 60.000 pessoas e um custo de 500 milhões de reais para sua construção, o que equivale a pouco mais de 180 milhões de euros.
Um valor condizente, inicialmente, com o que foi gasto na construção de outros estádios pelo mundo.
Ignorando o período das obras – quando o dinheiro vem de fora e nenhum é gerado internamente – e supondo uma taxa de juros igual a zero, inclusive no período de carência, teríamos, numa conta simples, um desembolso mensal da ordem de 2,8 milhões de reais durante 180 meses.
Na vida real, porém, os juros existem, e eles elevariam o valor da fatura mensal para alguma coisa ao redor de 3,2 milhões no mínimo.
Uma vez pronto o estádio, e partindo do pressuposto que por ser moderno e novo requereria menos manutenção, ainda assim teríamos uma despesa mensal na faixa – hipotética e benevolente – de trezentos mil reais mensais.
Somando tudo, a cada primeiro dia de cada mês a parceria MSI/Corinthians estaria devendo a bagatela de algo ao redor de 3,5 milhões de reais.
Todavia, se pensarmos que renda de bilheteria deve ser do time (ou seja, do centro de custo “futebol profissional”), que também precisa manter-se e renovar-se, e não do centro de custo “estádio”, esses valores tornam-se quase impensáveis.
No caso do Morumbi, ainda em 2005, tivemos, em números arredondados, oito milhões de receitas do estádio propriamente dito (bilheteria fora), contra cinco milhões de despesas. Ou seja, uma receita líquida de apenas três milhões de reais, ou 250.000 reais por mês, equivalente a apenas 8% – oito por cento! – da faturinha sagrada de todo mês para pagar o empréstimo.
Um clube com um time de futebol não tem fins lucrativos, mas um empresário tem, e isso significa que Berezovski quer fazer um estádio para ganhar dinheiro. Além de pagar os custos da construção, o estádio teria que gerar receita para remunerar o investimento, o trabalho, a administração do milionário russo e seus associados.
Como?
Eu não sei. Mas que é suspeito, ah, isso é!
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Marcadores: Marketing e Dinheiro
14 Comments:
At 10:42 AM, Anônimo said…
Nem sabe
At 2:08 PM, Anônimo said…
o são paulo tem time e organização
=]
At 7:30 PM, Iara Alencar said…
Então é preferivel nao ter um estadio?
nao entendo.
At 6:42 PM, Emerson said…
Olá, Iara.
A questão é quase essa.
Hoje, construir um estádio de acordo com o figurino FIFA, tem um custo proibitivo.
Nenhum time brasileiro tem essa capacidade. E um grupo de investidores, quaisquer que sejam os donos do dinheiro, vai querer retorno.
E como gerar retorno?
Precisaríamos de grandes rendas e ingressos caros, além de faturamentos paralelos ao estádio.
Muito difícil.
At 8:12 AM, Iara Alencar said…
Oi Emerson, mas voce sabe muito bem, que se colocar infressos caros pra ver Flamengo e america ninguém vai ver ne?
a nao ser que sejam play offs de algum campeonato.
eu ejo outra saida.
Bussnes..
Faze do futebol um epstaculo e ganhar dineiro com as marcas os nomes dos jogadores, a paixao do torcedor.
de uma dica pro ldio, um topic sobre isso.
ou te dou a dica, faça um assim...
abraços.
At 10:03 AM, Anônimo said…
Emerson, mto bom exercício. Refiz porém teus cálculos com o uso de juros compostos como faz o mercado(creio q usastes juros simples), à taxa de 10% ano, q é mais ou menos o q o BNDES cobraria. A prestação mensal seria de fato de R$ 5,284 milhões.
Com razoável experiência prática no assunto tenho alertado em especial os jornalistas que este negócio de Arena múlti-uso não pode ser olhado como panacéia. O público europeu tem hábitos e - principalmente - poder aquisitivo mto diferentes dos nossos. Como exemplo, que eu saiba a Arena da Baixada pouco ou nada foi utilizada para eventos que não futebolísticos e isto, sabemos e v bem confirmou com seus números, é sinônimo de prejuízos certos.
Técnicamente falando: no cenário brasileiro atual e no horizonte próximo investir em Estádios de futebol é um péssimo negócio. Abç
PLINIO
At 11:49 AM, Emerson said…
Muito obrigado, Plinio, por sua explanação. Didática, curta e aterradoradoramente realista.
Eu nem me atrevi a pensar em juros compostos e taxas de 10% ao ano. :o)
A direção do sÃO Paulo parou um pouco de reclamar do "Morumbi", mas, comenta-se, que a maior parte do dinheiro do Denilson há alguns anos foi gasta na recuperação do estádio. O negócio é ruim pra burro, pois além da manutenção normal de todo dia, tem os "extras" pra ajudar e derrubar orçamentos.
E a Iara, pra ajudar, comenta que ingresso caro, pra torcida do Flamengo, só em jogões. Ou seja, é complicado.
At 11:04 PM, Anônimo said…
Bom, como é inevitável que o estádio exista para se poder nele jogar, sempre me pareceu que a melhor opção seria o modelo Milan-Inter ou Juventus-Torino, ou seja, compartilhar um só estádio entre 2 ou 3 grandes do Rio. Um estádio menor (tvz pra 60 mil apenas - número condizente com a freqëncia habitual), e com custo de manutenção mais barato do que o do elefante azul Maracanã.
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Aliás, por falar em Maracanã, defendo que só contribui negativamente para o desempenho das equipes do Rio. Um deserto em jogos de Brasileirão, quase campo neutro. Grande, caro, ruim e inútil. Mas essa discussão fica pra outro post...
Victor
At 11:20 PM, Anônimo said…
O comentário acima era a segunda parte de um comentário meu maior, mas que um bug impediu de ser publicado. Dizia que sempre me pareceu questionável o desejo de 3 dos 4 grandes do Rio - que não possuem estádios próprios - de os construírem. Sempre me pareceu intuitivo que uma enorme estrutura daquelas utilziada somente uma vez por semana em média só podia ser deficitária. Ressalte-se, ainda, que aqui no Rio as receitas com ingressos não são tão altas como as do SPFC. Em jogos de brasileirão, o público médio não passa de 10 mil. Mesmo assim, todos os dirigentes cariocas sonham com a construção de um novo estádio para seus clubes. Um desperdício em potencial.
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Fazendo outra conta, se um estádio custa 500 milhões de reais, o SPFC poderia vender o Morumbi ao Corinthians pela bagatela de 300 milhões. Aplicava os 300 milhões à Taxa Selic e obteria por ano 39 milhões. Com esse rendimento, pagaria 20 milhões ao mesmo Corinthians pel aluguel do estádio em dias de jogo do SPFC (quase a receita que o Morumbi gerou em 2005) e ainda ficaria com 19 milhões, mais do que os 16,8 milhões de receita bruta anual que o Morumbi gerou.
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Apenas um exemplo prozaico e cheio de simplificações grosseiras pra dizer que talvez o próprio ato de se ter um estádio - por mais que o investimento já esteja amortizado - também pode ser um mau negócio.
At 11:24 PM, Anônimo said…
Por fim, só um comentário final: excelente post.
Bem que este blog agora podia ser um refúgio para boas idéias e discussões, uma vez que infelizmente o blog do Lédio está cada vez mais contaminado por torcedores anencéfalos que lá só entram pra gritar o nome do seu clube e bizarramente pedir a convocação de Leonardo Moura pra seleção. Uns malas.
Abraço,
Victor
At 9:05 AM, Emerson said…
Obrigado, Victor,
Acho que hoje, pensando com a cabeça e não com o coração, a direção do SP não construiria um estádio.
Por outro lado, ter seu próprio "lar" é muito importante. Não é à toa que o antigo ditado medieval diz que "a casa de um homem é seu castelo". Jogar "em casa" ainda é importante.
O grande pecado do Maracanã, a meu ver e olhando de fora, é ser propriedade do estado.
O exemplo da cidade de Milão foi bem lembrado. A rivalidade Inter x Milan é terrível, nada fica a dever a nenhuma das nossas, no Rio, SP, Belô, Porto Alegre, Salvador, Belém... E os caras coexistem pacificamente, cada qual com seu estádio que é o mesmo.
:o)
Demorei muito tempo, há alguns anos, para entender essa história. Pensava que cada time tinha o seu próprio estádio, afinal, cada jogo era num estádio com um nome diferente. hehehehe...
Uma arena moderna, multi-uso, com posse compartilhada entre 3 ou 4 grandes cariocas, seria uma saída muito razoável, bem mais factível do que pensar em estádio próprio.
O Engenhão ficará pronto em breve, e a partir daí talvez os clubes pensem numa forma melhor de lidar com os dois estádios.
Falando só por mim, acho que seria muito interessante se algum megagrupo comprasse o Morumbi para fazer um super-shopping, acoplado a uma arena para o São Paulo.
Mas...
Bom, há temas e discussões que são tabus. Pelo menos por enquanto.
Há muita gente que, inclusive, se revolta quando o Morumbi é usado pelo Corinthians, acredite se quiser! A paixão mata a razão, simplesmente. E o futebol é movido a paixão, em grande parte (o que é bom, mas não em excesso).
At 11:47 AM, Anônimo said…
Excelente post ... um oásis de lucidez neste tão mal usado ciberespaço (como salienta o Victor).
Sim, Paulo e Victor, do ponto de vista estritamente do que se chama em finanças de "custo de oportunidade" (simplificadamente, a taxa de juros de remuneração comparativa a investir-se um recurso na economia real)até um estádio amortizado como o Morumbi é mau megócio. É claro que isto no Brasil é agravado pela absurdas taxas de juros reais.
No caso do SP até que a atual diretoria conseguiu diminuir o desperdício de manter um gigante daquele pra uso em 35 dias/ano (o equivalente a 90% de ociosidade). Acho mesmo que hj os ganhos intangíveis de imagem e auto-confiança da torcida e dos jogadores equilibra a balança. Agora, partir pra um empreendimento novo é loucura. Abçs,
PLINIO
At 10:21 PM, Anônimo said…
Excelente post!
E bons comentários também.
Nunca li nada parecido na imprensa, parabéns.
At 8:11 PM, Anônimo said…
200.000,00 de Euros custou o Santiago Bernabeu com capaicdade de 75.145 espectadores e varios teloes e denominado pela UEFA como Estádio 5 Estrelas.
O Real Madrid é o clube mais rico do mundo, nehum clube brasileiro e muito menos o corinthans teria condições de arcar com isso, e com 180.000,00 milhoes de Euros da pra comprar o Kaka, melhor do mundo.
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