Um Olhar Crônico Esportivo

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sábado, fevereiro 24, 2007

Sonhos & Delírios



O torcedor está sempre sonhando com seu time, mais forte e poderoso a cada sonho. Os sonhos, na maioria das vezes, têm cara e nome certos, e vão desde Ronaldinho e Kaká até o Zé das Lontras, dependendo do time para o qual se torce e da grandeza do imaginário do sonhador. É bom que seja assim, é saudável, mesmo porque ninguém vive sem sonhar, mesmo que seja acordado.

Creio que podemos dizer que o delírio é o sonho exacerbado, o sonho sonhado, o sonho elevado ao quadrado e cuja raiz já é, ela própria, um pouco demais, mesmo para um sonho. Se o sonho já é um sonho, imagine-se, então, o delírio.

Muitos torcedores, provavelmente a maioria, deliram ao invés de sonhar.

Dois bons exemplos apareceram nessa semana que termina hoje. O primeiro diz respeito a Alex, o meio-campista que o que tem de genial tem de ausente, ídolo maior do turco Fenerbahçe, mas a caminho de ser ex ou dar a volta por cima e tornar-se mais ídolo do que nunca. Sabe-se, pelo próprio jogador, que a Turquia já lhe deu o que tinha para dar, e que foi, basicamente, muito dinheiro. Com a aproximação do final do seu contrato as especulações começaram. E elas, por sua vez, incendiaram as cabeças torcedoras em diferentes capitais, em diferentes camisas. Cruzeirenses e palmeirenses saíram na frente nos sonhos e planos para ter Alex de volta a seus times, nos quais brilhou intensamente e associou seu nome a grandes conquistas.

O segundo exemplo é o zagueiro argentino Samuel, ex-Real Madrid e atualmente na reserva da Internazionale, de Milão. Dizem que outro Internacional, o de Porto Alegre, estaria interessado em sua contratação. Foi o que bastou para a torcida colorada sonhar, mais que isso, delirar com a “chegada” em grande estilo do zagueirão argentino. Que, diga-se de passagem, é muito ruim e violento ao extremo, tendo sido execrado por imprensa e torcida quando no Madrid.

O sonho Alex

O Fenerbahçe ofereceu a Alex 2 milhões de euros por ano, num contrato de três anos. O jogador achou pouco e pediu 3 milhões de euros por ano, no mesmo período. Ora, uma continha simples nos mostra que esses valores correspondem, grosso modo, a quinhentos mil reais por mês na oferta do clube turco, e a setecentos e cinqüenta mil reais por mês na contraproposta do jogador. Ou seja, 6 milhões de reais num caso e 9 milhões de reais no outro. Isso tudo para um só jogador... Desnecessário dizer que são valores absurdamente fora da realidade brasileira. Ou melhor, muito além de nossas possibilidades. Comenta-se que Zé Roberto, no Santos, ganha quinhentos mil por mês, valor desementido pelo jogador e pelo clube, que dizem ser de apenas trezentos mil reais seus ganhos mensais. Pode ser, mas, provavelmente, a verdade está num patamar acima desse. E como o Santos já paga alegados quinhentos mil para seu treinador, gastando a bagatela de novecentos mil reis por mês com toda a comissão técnica, são fortes os boatos e indícios de que o clube já enfrenta, ou enfrentará em breve, sérios problemas financeiros, que a venda de Robinho parecia ter resolvido para todo o sempre. Coisa que, bem sabemos, só existe nos contos de fadas. Aliás, o próprio Santos esteve no centro da boataria sobre a vinda de Alex, que usaria a camisa e receberia o salário de Zé Roberto a partir de julho, quando, tudo indica, ele voltará para a Europa para ganhar mais do que ganha aqui.

O delírio Samuel

A se acreditar nas palavras de seus dirigentes, e não há porque delas duvidar, o Internacional é um clube com sérios problemas financeiros a resolver, ainda, e que luta para conseguir um fluxo de caixa regular, que permita manter uma equipe competitiva sem grandes dramas. Nesse sentido, uma rígida política salarial é essencial, o que foi dito várias vezes pelo ex-presidente Fernando Carvalho e por seu vice de futebol, hoje presidente, Vitório Piffero. Essa postura condicionou a renovação de contratos a um teto salarial inferior ao praticado por times de São Paulo, mas em consonância com as receitas do clube. Um jogador como Samuel, transferido do Madrid para a Inter, tem um salário astronômico para nossa realidade e para a realidade colorada. Dificilmente um jogador como esse ganha menos de 150.000 euros por mês, valor equivalente a bem mais de quatrocentos mil euros mensais, ou 5 milhões de reais por ano. E, naturalmente, ele não viria jogar no Brasil para ganhar menos do que ganha atualmente. Basta ver a duríssima negociação envolvendo Boca, Riquelme e Villareal para viabilizar a vinda do jogador por empréstimo por apenas 6 meses, e considerando que Riquelme estava com muita vontade de voltar e nenhuma de ficar na Espanha. Mas, apesar disso, não queria perder dinheiro, o que é muito justo. Isso tudo, acredito, nada mais foi que um boato plantado para entusiasmar os torcedores e amenizar um pouco a má fase vivida pela equipe nesse começo de temporada. Além disso, o grande rival colorado, o Grêmio, trouxe um zagueiro argentino já meio rodado, mas, para o padrão brasileiro e sul-americano, ainda muito bom, o Schiavi.

E se os azuis fazem festa, os vermelhos não podem deixar por menos. Nem que seja no imaginário de cada torcedor.


Alex e Samuel continuarão jogando nos campos europeus.

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3 Comments:

  • At 6:27 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson, beleza de texto.

    Até agora não entendi esse negócio do Samuel.

    A direção do Inter disse apenas que sondou mais de 20 zagueiros - sendo que o Samuel foi o 19º, hehehe - e os caras do JA já acham que ele está chegando no Salgado Filho.

    A mensagem da direção foi clara, não haverá contratações que comprometam o curto orçamento Colorado.

    Grande abraço.

     
  • At 12:57 PM, Anonymous Anônimo said…

    Emerson, nõ sei se eu que não entendi bem o que você escreveu, mas a diretoria do Inter não pode ter dito que o clube tem problemas financeiros, pois na realidade não tem. O cuidado do clube, é evitar voltar a ter problemas financeiros. As finanças do clube nunca foram tão bem, mas há a consciência que tudo se deve a boa fase vivida pelo clube nos últimos anos. A política adotada é de não fugir da diretrizes traçadas. Não interessa ao clube, correr riscos investindo em jogadores caros e que possam causal mal estar no grupo. Entre suas prioridades está ainda a obra no Beira-Rio. O Christian, que aqui já jogou, ficou maravilhado com o que encontrou, e as obras não param, já que a idéia é tranformar o estádio em mais uma fonte de renda, não se limitando a arrecadação de bilheteria. Em síntese, a idéia é não se deslumbrar e gastar mais do que precisa para não por a perder a estabilidade conquistada pelo Ex-Fernando Carvalho.
    Abraços

     
  • At 4:46 PM, Blogger Emerson said…

    Gigi, talvez o "sérios" tenha sido exagerado, mas o sentido geral ouvi do Carvalho e do Piffero em julho de 2006, antes e depois da conquista da Libertadores.

    Para equacionar dívidas e manter uma equipe competitiva, o clube não poderia fazer nenhuma loucura, e teria que vender algum jogador.

    Bom, isso, por sinal, não é novidade pra ninguém, todos os clubes precisam fazer caixa com a venda de jogadores. As exceções, no caso do SP, têm sido 05 e 06 graças aos prêmios e bilheterias da Libertadores e Mundial. Esse ano, com os novos valores de tv no Paulista, o balanço deverá ser tranquilo, também.

     

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