Falando de futebol no sertão
Uma pausa gostosa no meio da manhã. Um cafezinho para uns, um mate para mim. Não sei porque, mas nunca corri atrás de uma cuia e bomba para ter meu mate em São Paulo, mas, viajando, não abro mão de saborear um amargo sempre que posso, como agora.
Estamos em Campo Novo dos Parecis. A avenida principal tem o nome do “seu” Olacir. Nada mais justo e merecido, e ainda é muito pouco, pois ele está na origem da transformação e desenvolvimento de toda essa região. Daqui até Cuiabá são 400 km de estrada, todos asfaltados, felizmente. Esse município tem 6 vezes o tamanho do município de São Paulo, com quase dez mil quilômetros quadrados de área. A linda e imponente Cachoeira Utiariti, ao lado da aldeia Parecis do mesmo nome, fica em seu território. Parte da área do município é ocupada pelas reservas indígenas, existindo 3 aldeamentos com cerca de meio milhar de habitantes.
E aqui, nesse cenário, três homens adultos estão conversando sobre o que realmente conta e tem valor na vida de três homens adultos: futebol.
Zé Carlos, nosso motorista, é mato-grossense de Rondonópolis e torcedor do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. O Vitor, agrônomo, trabalha na empresa para a qual estamos gravando, o Grupo André Maggi, aqui na região. Mas é do Paraná, veio pra cá há muitos anos e aqui criou suas raízes e cria sua família. Eu sou o terceiro participante, paulistano com pretensões a ser um sertanejo.
O Zé chama nossa atenção, cria um suspense, puxa a carteira do bolso da calça e, orgulhoso, mostra-nos o ingresso do jogo do seu mui amado União de Rondonópolis contra o seu querido e idolatrado Vasco da Gama. É do jogo válido pela Copa do Brasil e o ingresso já mostra sinais dos muitos manuseios.
Mais que depressa o Vitor saca sua carteira e, de lá, o ingresso plastificado do jogo do São Paulo contra o Paysandu, de Belém, que ele assistiu no Morumbi pelo Campeonato Brasileiro de 2005. Mesmo plastificado, nota-se que esse ingresso já viu muitas mãos durante sua existência pós-jogo.
Não fico atrás, é claro. Corro até o carro, pego meus documentos e... Nada! Na véspera da viagem guardei, cuidadosamente, meu ingresso do jogo final da Libertadores de América, quando nos tornamos Tri-campeões continentais. Fico chateado e sinto-me diminuído. Coisa de criança, claro. Coisa de homem, naturalmente.
E aproveitamos toda a pausa para falar de futebol, dos jogos que vimos, dos times que admiramos. O Vitor foi a São Paulo para assistir ao GP de Formula 1. Na véspera da corrida trocou o passeio por mais um shopping pelo jogo no estádio do seu time do coração. Ficou emocionado por conhecer o Morumbi, e já está louco de vontade para voltar. E, nesse ano, conforme for o desempenho do time na Libertadores, já há um grupo de torcedores são-paulinos em Campo Novo dos Parecis planejando uma viagem para São Paulo só para ver um jogo do time pela Libertadores, mais que nossa paixão, nossa obsessão.
E assim foi nossa pausa, uns tomando café, eu mateando e todos falando de futebol. Afinal, como escreveu certa feita Nelson Rodrigues (creio eu), futebol não é uma questão de vida ou morte. É mais importante que isso.
P.s. : tão logo voltou para casa, o Zé mandou plastificar seu ingresso, afinal trata-se de seu documento mais importante e querido.
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Marcadores: Crônicas
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