Um Olhar Crônico Esportivo

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quarta-feira, agosto 31, 2005

Tostão: bolas paradas e goleiro-líbero


A coerência é rara

Em todo o mundo, acontece um grande número de gols decorrente de escanteios e de cruzamentos de bolas paradas. É uma evolução do futebol. Esses gols eram pouco comuns no passado, com exceção das faltas perto da área e cobradas diretas para o gol.
Os técnicos adoram treinar escanteios e cruzamentos de bolas paradas para a área. Eles se sentem mais decisivos no resultado do jogo. Porém, não se deve priorizar demais esses lances, pois os times ficam mais previsíveis e o futebol mais chato e feio.
Hoje, é mais importante ter um especialista nas bolas paradas (são poucos) do que um jogador habilidoso. Não se deve confundir também talento com habilidade. O talento é a soma da habilidade, da técnica, da criatividade e das qualidades físicas e emocionais.
Melhor ainda é ter um craque nas bolas paradas e em movimento, como Alex, Riquelme e outros. Grande número de gols do Cruzeiro na conquista do Brasileiro de 2003 saiu de bolas paradas, com Alex.
Parreira não se entusiasma com Alex. Com a escalação do quarteto, Alex deve perder um lugar entre os 22. Nos dois últimos jogos pelas Eliminatórias, Ricardinho foi convocado para o seu lugar. Só foi chamado para a Copa das Confederações (foi cortado por contusão) porque o Santos ficaria sem três titulares.
No esquema com dois meias e dois atacantes, Juninho é reserva do Kaká e Ricardinho ou Edu ou Zé Roberto (Renato entraria de volante) do Ronaldinho Gaúcho. Como Alex tem pouca velocidade e mobilidade para marcar no meio-campo e chegar à frente, Parreira acha que ele não pode fazer a função do Ronaldinho Gaúcho. Isso é fato.
Mas Alex é tão craque que não deveria ficar de fora do elenco. Além de ser o principal reserva para o Kaká, se voltar o esquema anterior, Alex é o melhor cobrador de escanteios e de faltas para a área. Ronaldinho Gaúcho e outros são excelente nas faltas cobradas diretas para o gol.
O melhor cruzamento em bolas paradas é o que a bola vai em curva, com grande velocidade, sem subir tanto, fugindo ou indo em direção ao goleiro e caindo próximo da pequena área. Se a bola sai do goleiro, como acho melhor, pega o atacante de frente para cabecear. Se a bola vai para o goleiro, alguém toca de cabeça e desvia sua trajetória. Isso é terrível para a defesa.
Nas duas situações, se o goleiro sai do gol, fica no meio do caminho e ou tromba com vários jogadores. Por isso, discordo da maioria que viu falha do Dida no gol do México. Se ele saísse e não pegasse a bola, seria também criticado. A coerência não é uma qualidade comum do ser humano.


Terceiro olho

Atlético-PR e São Paulo sufocaram o Chivas e River Plate e conseguiram ótimas vantagens.
Os técnicos brasileiros estão utilizando mais a marcação por pressão, no outro campo. É a blitz. Não dá geralmente para fazer isso durante os 90 minutos. Mas o Atlético-PR fez. Muitas vezes também não dá certo porque diminuem os espaços no campo do adversário, como aconteceu com o Fluminense no jogo contra o Paulista.
A importante presença do Souza no segundo tempo contra o River Plate foi mais uma evidência de que, em um time que joga com três zagueiros e no ataque, é melhor escalar de ala um meia do que pedir para um lateral ou um volante improvisado avançar mais do que o habitual. Os técnicos fazem pouco isso.
Já na Argentina, com a vantagem de dois gols, será melhor escalar de inicio o Souza ou um marcador?
Danilo foi novamente importante. Ele é um desses meias mais lentos, que pega pouco na bola, que é chamado de sonolento como Alex, mas que é criativo, passa, cruza e finaliza bem. As suas deficiências são mais valorizadas do que suas virtudes.
Além das cobranças excepcionais de pênaltis e faltas, Rogério Ceni é o líbero do São Paulo. Quando o time está no ataque e os defensores adiantados, ele faz a cobertura em caso de contra-ataque.
Para fazer isso bem, como fazem Rogério Ceni e raríssimos goleiros, é preciso ter um olho no passe e na bola, outro no posicionamento dos zagueiros e dos atacantes, e um terceiro olho, o de dentro, da percepção, da imaginação e da intuição.

(Coluna do Tostão - 26/6/2005)

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