Ana Paula Oliveira: bandeirinha
Ela dá impedimento. E não vaiam
ENTREVISTA - Ana Paula Oliveira: bandeirinha
Valéria Zukeran
Quando ela entra em campo, é inevitável um murmúrio no público masculino. O jogo começa e muitos olhares se dirigem para uma das linhas laterais onde ela está, não para o centro do gramado. Ana Paula Oliveira já se tornou personagem de destaque no futebol brasileiro. Felizmente, não só pela beleza, mas principalmente por sua incontestável eficiência como auxiliar de arbitragem.
Os primeiros cinco minutos com ela fazem desaparecer qualquer idéia de que Ana Paula seja uma deslumbrada. Ela chega ao local marcado para a entrevista de cara limpa, calça jeans, camiseta e tênis. Não reclama com o pedido do fotógrafo de aproveitar a boa luz das 16 horas e a paisagem de uma praça para continuar a sessão de fotos que havia começado às 9 horas durante sua aula de musculação. Na hora da pose, fica em frente a um casal de namorados que se beijam. Dá um suspiro e uma declaração tão espontânea quanto desconcertante. "Faz tempo que não dou um pega desses", admite. "Ando fazendo tanta coisa que estou sem tempo de namorar."
O desabafo não é charme. Quando não está viajando para atuar como auxiliar de arbitragem no Campeonato Brasileiro, Ana Paula precisa se dividir entre a preparação física, o trabalho na Prefeitura de Hortolândia (cidade da região metropolitana de Campinas), aulas de inglês, compromissos profissionais, seu site na internet (www.anapaulaoliveira.com.br) e o curso de jornalismo na Faculdade Hoyler, de bolsa semestral. Isso quando não participa dos trabalhos de uma entidade assistencial na sua cidade ou apita em algum evento no fim de semana.
No dia da entrevista, tinha passado por três cidades (Campinas, Valinhos e Hortolândia) para cumprir os compromissos. Conta que essa rotina afetou o relacionamento com o namorado de Goiânia, que ficou mais distante.
INFÂNCIA HUMILDE
Mas Ana Paula não reclama. Conta que nasceu há 27 anos na zona leste da capital e já passou dias difíceis. Aos 5 anos, mudou-se para Sumaré (hoje , o local pertence ao município de Hortolândia), por causa do novo emprego do pai. Na adolescência, vendia laranjas pela rua, coxinhas em campos de futebol amador ou trabalhava como camelô para completar a renda familiar. A situação financeira foi decisiva para que ingressasse na arbitragem aos 14 anos.
"Meu pai era árbitro e a gente nem acompanhava. Não gostava. Entrei no futebol por acaso", reconhece. Certa ocasião, o pai precisou de alguém para o trabalho de anotador da súmula em um jogo da liga amadora da cidade, o que renderia um dinheiro para as despesas da casa. "Eu fui, mas não que eu gostasse", lembra Ana Paula. "Eu não sabia o que era carrinho, o que era jogo bruto. Eu não conhecia nada disso."
O dinheiro no bolso e o incentivo dos colegas do pai fizeram com que Ana Paula entrasse para o curso de conhecimento das regras. "Diziam: 'Vai lá Ana Paula, faz o curso. Não precisa ir para o campo e a gente cuida de você. Vem que não vai ter perigo.'" Mas acabava sendo escalada para atuar como bandeirinha, se alguém se atrasava. "Foi quando eu comecei a pegar gosto e deixei a mesa para trabalhar de assistente", recorda.
Ana Paula confessa que jamais pensou em arbitragem como profissão. Quando a Federação Paulista de Futebol abriu curso feminino, sua reação não foi de entusiasmo. "Eu tinha 18 anos e disse para os meus colegas: 'Gente, isso não é para mim não.'" Fez a prova sem compromisso. Outra vez, o destino interferiu. "Na época tive de optar: ou fazia faculdade de educação física ou fazia escola de árbitros. Como minha família tinha passado por grave problema financeiro e eu teria de largar meu emprego para estudar, optei pelo curso de árbitro."
BELEZA E PRECONCEITO
Na escola, a primeira aula não foi animadora. "Meu professor perguntou: 'Você está aqui para ser árbitra ou para usar o futebol como trampolim para outra carreira?'" A resposta: "Estou aqui para aprender e se for o meu dom vamos saber com o tempo. Mas não tenho intuito de seguir outra carreira."
Depois de convencer os professores de que levava a arbitragem a sério, Ana Paula encontrou segundo obstáculo: sua beleza. O problema rendeu histórias engraçadas. "Teve uma partida de equipes juniores em que o jogador fez o gol, ofereceu-o a mim e foi comemorar comigo." A Federação se preocupou com o risco de o trabalho não ser levado a sério. "Com o tempo fui convencendo as pessoas de que eu gostava daquilo e queria conquistar respeito pelo trabalho", revela.
Se o preconceito em certos momentos foi motivo de riso, em outros causou revolta. Ana Paula afirma que o começo nas divisões de acesso profissional foi difícil. "Depois do jogo, o diretor do time que perdia reclamava. 'Mulher apitando só podia dar nisso.' Mas não via que o centroavante dele perdeu um gol, que o zagueiro furou, que o goleiro era frangueiro..."
Ana Paula conta que o tratamento melhorou quando passou a atuar na 1ª Divisão e mostrou competência. "Mudou da água para o vinho. Hoje eles me dão os parabéns e falam que estão tranqüilos." Essa mudança, no entanto, não impede que seja pressionada. Emerson Leão, por exemplo, é o técnico mais escandaloso, "cirquento". Mas que o que lhe traz mais dificuldades é Estevam Soares. "Resmunga o tempo todo", entrega. "No último jogo só parou quando disse que estava tirando minha concentração e se o time tomasse gol era culpa dele."
As cantadas em campo diminuíram. Mas Ana Paula se diverte contando sobre um jogador que aguardava a recuperação do goleiro adversário para cobrar escanteio e perguntou se tinha namorado. Ela questionou a curiosidade. "Ah. A gente poderia combinar uma coisa depois do jogo", ele respondeu. Ana foi ríspida. "Se limita a jogar bola. Olha lá! O juiz autorizou, bate o escanteio." Segundo ela, o "pretendente" obedeceu e depois do jogo foi se desculpar. Não sem deixar de emendar: "Se quiser, realmente estou disposto a sair com você."
OBJETIVOS
Ana Paula, porém, garante que hoje tem pouco tempo para admiradores. O trabalho a absorve, sobretudo porque estabeleceu nova meta na carreira, depois de ter ido à Olimpíada, no ano passado, em Atenas. "Meu objetivo é uma Copa. Não vou dizer que é a de agora, em 2006, porque está em cima e eu preciso aprimorar não só o inglês como a parte física. Preciso correr o que os homens correm", avalia."Mas quero estar, sem dúvida,em 2010, na África."
Ana Paula diz que, hoje, corre 2.550 metros em 12 minutos, e deve chegar a 2.700 metros no mesmo tempo para ter chances de ir à Copa. Para isso, toma aulas com uma personal training e faz musculação, além do curso de inglês. "Faço 50 metros em 7 segundos. Consegui igualar os homens na prova de explosão, agora falta a de resistência."
Após o fim da carreira, Ana Paula pretende ser jornalista. "Nada para agora. Mas já vou usando o que aprendo no meu site" . Por enquanto, aproveita as oportunidades. Revela detalhes sobre o ensaio que fez para a revista VIP, cujas fotos foram escolhidas pela FPF. "Não ganhei um tostão. Mas foi ótimo para me tornar mais conhecida." E quanto a posar nua? "Eu digo não, porque eu estou focando uma coisa, mas não vou dizer nunca. Não seria bom pelo que estou conquistando no futebol. Não é o momento."
MANOS
Apesar da rotina agitada, Ana Paula diz que ainda apita jogos amadores em Hortolândia, cidade com alto índice de criminalidade. "Me orgulho de dizer que ninguém mexe comigo nos bairros dos manos", observa. "Eles me respeitam porque sempre fui correta com eles." Isso, porém, não evita que Ana Paula conheça de perto a violência.
"Tinha um colega, o Marquinhos, que apitava jogos comigo. Estava sempre sem dinheiro, mas nunca vi nada demais", recorda. "Em março do ano passado, durante uma partida entre dois times de bairros barra-pesada, ele foi bandeirinha e apontou uma falta. O pessoal do time prejudicado foi para cima dele e não parava de agredi-lo com chutes e socos. Tive de me abraçar a ele para o pessoal parar", lembra. "Quando voltei da Olimpíada, soube que foi assassinado com cinco tiros na cabeça. Dizem que foi por dívida com drogas, menos de R$ 1 mil."
Outra preocupação de Ana Paula é com o futuro da arbitragem feminina. "Eu digo às meninas interessadas que, se elas pensam na arbitragem como trampolim, é melhor procurar outra coisa." Ana Paula diz que o assunto a preocupa porque sabe que as meninas da nova geração são muito bonitas e serão assediadas em campo. "Então é importante que elas tenham consciência."
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Marcadores: Personalidades
3 Comments:
At 6:08 PM, Anônimo said…
Essa Ana Paula é dez!
At 7:53 PM, Robert Maia said…
Já pensou ela nua? E o que tem demais ela mostrar tudo? Futebol é uma putaria já mesmo. Pelo menos ela é bonita.
At 12:24 PM, mengaoRIO said…
Alem de deliciosa,a Ana tem todo um charme de levantar a bandeira.
Continue desta maneira, deixa o Montenegro ladrar ele é cego, falou que vc está gordinha,PQP o cara é uma MÚMIA feio pra CA.......e o pior BOTAFOGUENSE.
Tomara que todo jogo que vc estiver, chova, porque correndo com aquele shortinho molhadindo é D+
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