Um Olhar Crônico Esportivo

Um espaço para textos e comentários sobre esportes.

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terça-feira, maio 06, 2008

La Bombonera por 22 pesos


Meu filho Gustavo, que passou uns dias em férias em Buenos Aires, visitou La Bombonera na véspera do jogo contra o Cruzeiro.

Passeou por tudo, do gramado e vestiários até os camarotes (não, não viu nenhuma pedra de gelo por lá, apesar do frio cortante...). Pagou 22 pesos pelo Bombonera Tour completo, museu inclusive.

Com ele, mais umas trinta pessoas.

Multipliquem isso por 22 pesos...

Multipliquem isso por, no mínimo, 6 ou 7 vezes por dia...

Multipliquem isso por, digamos, 240 vezes por ano, considerando que há meses de turismo fraco em Buenos Aires, etc, etc...

Agora somem ao total a renda obtida com a venda de camisas, bottons, chaveiros, bonés, calções, canetas, etc, etc, etc...







Não tenho os números do Boca, mas eu chuto que essa "brincadeira" deve render uns três milhões de pesos por ano, mais ou menos a metade da renda bruta de uma final de Libertadores com casa cheia no Morumbi, que hoje significa a bagatela de dois milhões de dólares.

Ou seja, passear por La Bombonera deve deixar algo como um milhão de dólares por ano em caixa, sem maiores despesas.

Provavelmente muito mais que isso, pois turistas adoram comprar coisas e uma só camisa, que seja, deve deixar como lucro o mesmo valor que o ingresso.

Sem falar que esse tipo de ação só faz crescer o mito La Bombonera e a fama do Boca, coisas preciosas que têm lá seu valor.

Que tal?

Quantos estádios brasileiros têm algo parecido?

... ... ...

Tem o Beira-Rio...

...

Que eu saiba, é só.

Y, entonces, ¿que tal?


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Ranking dos Balanços 2007 - Provisório I

Creio que esse título “Provisório” tem sua razão de ser.

É melhor fazer um post novo, provisório, do que ficar atualizando o anterior.

Para fechar esse quadro eu gostaria de dados, ainda, pelo menos do Botafogo, Internacional, Cruzeiro, Atlético PR, Coritiba, Sport, Goiás e Figueirense.

Creio que teríamos um panorama interessante.

Limitado, é claro, mas interessante.

Aproveito e coloco duas novas tabelas, ambas, a meu ver, muito importantes: as receitas operacionais do futebol sem as transferências de atletas e as rendas de bilheterias. Em ambas o Vasco da Gama não aparece, infelizmente, pois no balanço não há discriminação das receitas do futebol.

No caso das rendas de bilheteria, o asterisco no Grêmio e no Fluminense significa que, parece-me (não tenho certeza) haver renda de bilheteria oriunda de sócios-torcedores, contabilizada com outros nomes. Ainda no caso do Fluminense, o patrocínio da Unimed é bem maior do que aparece no Balanço. Isso ocorre porque o patrocinador paga diretamente os salários de vários atletas. Talvez seja o caso de dizer que complementa seus ganhos, pois os salários propriamente ditos são pagos pelo clube. Há quem critique, mas eu considero uma saída legal e que não deixa de ser benéfico para os credores do clube. Afinal, com bons jogadores as rendas aumentam e, com elas, a possibilidade de quitar dívidas.




Clube

Receita Operacional Total

Receita Operacional Futebol

Rec. Operac. Futebol sem Transferências

São Paulo

190.079

146.426

70.320

Corinthians

134.273

122.297

50.905

Grêmio

109.031

104.764

51.892

Flamengo

89.499

71.717

62.482

Palmeiras

83.889

65.146

44.617

Atlético MG

58.326

49.797

30.024

Santos

53.102

53.102

51.430

Vasco

51.079

37.017

Não especificado

Fluminense

39.335

32.528

31.182



Ranking sem as transferências


As receitas sem transferências de atletas, como eu disse, são importantes por serem, em boa parte, previsíveis e, mais importante, planejáveis.

Clube nenhum pode planejar a aparição e negociação de novos Lucas e Carlos Eduardo (Grêmio), Marcelo (Flu) ou Breno (São Paulo). Essas rendas, num mundo ideal, deveriam ser utilizadas na contratação de reforços ou em melhorias nas bases.


Clube

Rec. Operac. Futebol sem Transferências

São Paulo

70.320

Flamengo

62.482

Grêmio

51.892

Santos

51.430

Corinthians

50.905

Palmeiras

44.617

Fluminense

31.182

Atlético MG

30.024

Observem que há mudanças de posições entre os clubes, explicadas por uma fase ruim ou um trabalho que deixa a desejar nas categorias de base, principalmente.

O Palmeiras fugiu um pouco a esse modelo, pois sua renda com transferências deu-se com jogadores que já vieram formados. Santos e Fluminense parecem atravessar uma fase sem grandes negociações com revelações.




Ranking da Bilheteria


No caso das rendas de bilheteria, o asterisco no Grêmio e no Fluminense significa que, parece-me (não tenho certeza) haver renda de bilheteria oriunda de sócios-torcedores, contabilizada com outros nomes.


Clube

Renda com Bilheteria

Flamengo

14.612

São Paulo

12.464

Santos

9.579

Corinthians

8.393

Palmeiras

7.539

Grêmio

6.794*

Atlético MG

3.031

Fluminense

2.650*

Para vocês terem uma idéia da importância da Copa Libertadores, em 2006 o São Paulo chegou à final, quando perdeu para o Internacional, e a renda de jogos atingiu o valor de R$ 18.536.000,00, caindo para R$ 12.464.000,00 em 2007, quando o time foi eliminado nas oitavas-de-final pelo Grêmio. Além dessa perda significativa, teve ainda a perda das cotas de TV das quartas, semi e final, sem falar no eventual prêmio pelo título.

É bom observar, também, como esses valores são pequenos quando comparados às receitas do futebol sem as transferências de atletas. Os clubes, todos eles, podem e devem crescer nesse ponto, levando mais torcedores aos estádios.

Como fazer isso?

Bom, aí é tema para congresso interminável.




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Problemas à vista

...soluções a prazo?
Só se for a longo prazo.

Está na coluna Painel da Folha de S.Paulo de hoje:

Prato feito. A oposição do Clube dos 13 não gostou do tom da convocação que todos os times receberam para reunião na quinta. Segundo o comunicado, na pauta está a aprovação de decisões da comissão que negocia com a Globo e a assinatura do contrato de TV. Afirma que o correto seria votação do tema.

Rebeldes. Flamengo, São Paulo e Corinthians ameaçam não assinar o contrato. Discordam da cláusula de preferência à Globo na renovação, condenada pela Secretaria de Direito Econômico. A entidade só pode representar comercialmente os clubes que derem o seu aval à entidade.”

Um dirigente de um dos clubes oposicionistas dentro do Clube dos 13, disse a esse blogueiro ontem à noite:

“Eles mandaram simplesmente uma convocatória para assinar o contrato referente à venda dos direitos de transmissão. Não é assim, assunto como esse tem que ser votado antes de mandar todo mundo assinar.”

À oposição formada por São Paulo, Flamengo e Botafogo, pelo menos nessa questão juntaram-se o Corinthians e o Palmeiras, embora essa adesão palmeirense seja vista como passageira.

Esse Olhar Crônico Esportivo, entretanto, não acredita que esses clubes na oposição levem a contestação à frente, exceto no caso do São Paulo. O motivo é simples: todas as outras quatro agremiações já pegaram grandes adiantamentos de suas cotas de TV referentes ao corrente ano. A esse respeito, basta rever o post “A Globo e os adiantamentos”, publicado em 20 de março, onde esse blog conta exatamente isso: todos os grandes clubes já haviam recebido adiantamentos de suas cotas, exceto o São Paulo.

Somente o Corinthians, de acordo com seu documento “Demonstração da Dívida” de 29/2/2008, aponta uma dívida com o Clube dos 13 no valor de R$ 10.472.000,00 que vem a ser o valor que o clube teria a receber da entidade nesse ano – 50% do que receberão seus parceiros de Grupo I (Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Vasco).

Pelo visto, o clube do Morumbi estará sozinho, uma vez mais, na luta por novas regras na distribuição da verba dos direitos de transmissão.


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segunda-feira, maio 05, 2008

Ranking dos Balanços 2007

Procurei levantar os faturamentos, ou seja, as receitas dos principais clubes brasileiros. Faltou-me, ainda, tempo para fechar o circuito dos doze maiores, pelo menos, mas só encontrei os que estão na tabela abaixo. No site do Cruzeiro o balanço é o de 2006. Nos sites do Vasco, Internacional e Grêmio, balanço é inexistente, balanço patrimonial também. Não tive tempo para procurar o Botafogo, Atlético Mineiro e Atlético Paranaense, pelo menos. Por indicação do João Luiz, cheguei ao balanço do Fluminense. Caso algum dos leitores disponha do balanço 2007 desses clubes, por favor, forneça-o para mim. Desde já agradeço a colaboração.

Não relacionei despesas, não relacionei superávit ou déficit.

Confesso que alguns desses balanços são misteriosos demais para o meu parco conhecimento. Para destrinchá-los, só com o apoio de um especialista da área. Se por acaso eu conseguir, ampliarei o trabalho. Caso contrário, paro por aqui mesmo.

As receitas estão separadas em três áreas:

Totais – incluem Receitas Financeiras, área Social, Amadores e outras diversas, além da operação principal dos clubes, o futebol.

Operacional do Futebol – inclusive as divisões de base e estádio, bem como marketing, TV, bilheteria, licenciamento de marca, publicidade.

Operacional do Futebol sem Transferências de Direitos Federativos – essa é a real receita, aquela que deve ser tomada como o principal parâmetro de cada clube, sem estar engordada pelas transferências de atletas.


Clube

Receita Operacional Total

Receita Operacional Futebol

Rec. Operac. Futebol sem Transferências

São Paulo

190.079

146.426

70.320

Corinthians

134.273

122.297

50.905

Flamengo

89.499

71.717

62.482

Palmeiras

83.889

65.146

44.617

Santos

53.102

53.102

51.430

Fluminense

39.335

32.528

31.182

Espero voltar com informações mais completas brevemente.


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Como assim, bom dia?

- Acorda, amor, o despertador já tocou.

...

...

...

- Amor, você está atrasado, levanta. O despertador já tocou há horas.

...

...

...

- Já são sete da manhã e você ainda está na cama! Você está doente? Está sentindo alguma coisa?

- ... já vou...

...

...

...

Ele entra na cozinha, de chinelas, pijama, cara amassada, hálito cheirando a guarda-chuva molhado e mofado a quilômetros. Os olhos estão injetados, avermelhados, afundados nas órbitas. O cabelo não tem noção do que seja uma escova ou um pente há muito tempo, na verdade desde a manhã do dia anterior, um domingo que amanheceu pleno de expectativas felizes.

- Bom dia, amor. Finalmente, hein? Conseguiu cair da cama?

- Como assim bom dia? – a resposta do marido ao cumprimento não vem seca ou mal-humorada, ela vem murcha, sem energia, sem conteúdo, sem uma dúvida que justifique o tom de pergunta. A quase pergunta é sua própria resposta.

A mulher olha para ele, compungida, mais que o olhar é seu coração que diz que o marido não está bem. Seu mal não é de corpo, é mal de coração, é mal de cabeça, é mal que afeta sua moral. Tudo isso ela sabe, mas não consegue entender. Na verdade, até consegue entender, sim, isso ela consegue, colocando tudo que aconteceu em perspectiva, racionalizando, pegando os pedaços diversos de significado espalhados por todo canto e colocando-os em estantes mentais, tentando dar alguma ordem a alguma coisa que carece de lógica e, portanto, pensa ela, é impossível colocar em ordem.

- Você está chateado, né?

- Sei lá, sinceramente não sei como estou...

- Está com dor de cabeça? Quer que eu faça um chá? Não toma café, não, nem leite, deixa que eu fazer um bom chá pra você.

- Não, eu quero café mesmo.

- Alguma coisa não te fez bem? Acho que você comeu muita carne ontem. Isso tá me parecendo churrasco com cerveja em excesso.

- Não. Você sabe porque eu estou assim.

- Sei mesmo? Será que sei? Tudo que sei é que teu time perdeu um jogo ontem.

A resposta dela agora perde metade do tom de carinho e cuidado, trocada por um misto de agressividade misturada com “toma juízo, olha só o teu tamanho, pára de chorar e vai cuidar da vida que a morte é certa” – puro bom senso feminino.

- Ah, não, você não entende, você não sabe o que é isso. Você não percebe que não há vida depois do que aconteceu ontem?

- Como assim não há vida? Só porque um time de futebol perdeu um jogo você vem com essa conversa mole de “não há vida”? Há vida, sim senhor, e muita vida. Aliás, não só vida, mas também contas a pagar e um emprego para manter e garantir o salário no fim do mês. Por isso mesmo, vai se trocar e corre, que você está muito atrasado. Dá logo essa caneca que eu quero lavar, não vou deixar essa cozinha com louça suja.

Contra certos fatos não há argumentos possíveis.

Nada se levanta contra a lógica irredutível de deixar a cozinha em ordem, sem louça por lavar.

A caminho da empresa, o guri se aproxima do carro no sinal e traz o jornal na mão, sem gritar animado as manchetes do dia. Enquanto espera pela abertura do sinal, ele olha a capa do jornal e sente vontade de chorar ou de gritar ou de esmurrar alguma coisa, talvez ele mesmo, ou melhor que tudo isso pegar a louça que estava sobre a pia e jogá-la, arremessá-la com toda a fúria de sua dor no piso impecável da cozinha bem arrumada, espalhando mil cacos em mil direções. Nada disso ele faz. Engata a marcha, tira o pé do freio, pisa no acelerador com um algo a mais de intensidade e vai em busca do relógio de ponto, pois a vida continua, a louça tem que ficar limpa e ela jamais vai entender nada do que aconteceu. Bom, nem ele entende o que aconteceu.

No banco ao lado a manchete do jornal lota o carro com seu peso:

Massacre histórico no Beira-Rio: 8x1


Post scriptum

O título original dessa crônica era “The day after” e já estava procurando a imagem do pôster com o assustador cogumelo atômico quando uma pitada de bom senso fez-me mudar de idéia e trocar o apelativo e impensável “day after” pela busca de compreensão do “como assim”, que é, sim, o “Como assim, Bial”, daquele antigo Big Brother, o primeiro deles, lembram?

Não?

Como assim, não lembram?

Ah, não importa.

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sexta-feira, maio 02, 2008

Enchendo os olhos... e o cofre


Ontem acabou a safra 2007 de balanços das empresas brasileiras.

Entre os grandes clubes paulistas faltava vir a público o balanço do Santos, que foi publicado ontem no Diário Oficial do Estado. O Palmeiras antecipou-se e publicou seu balanço em 20 de março. Em meados de abril foi o Corinthians, que inovou e publicou também no Estado de S.Paulo e na Folha de S.Paulo, em seus cadernos de economia. Espaço caro e de alta visibilidade, mas coerente, apesar da despesa, com a política de transparência adotada por Andrés Sanches, dando a ela um pouco de publicidade.

A política de divulgação da Sociedade Esportiva Palmeiras é exatamente oposta, mas isso fica para outro post.

O São Paulo publicou seu balanço em 23 de abril, usando como veículo de massa o Diário de S.Paulo, mais exatamente seu Caderno de Esportes (o Diário Oficial é obrigatório e boa parte das empresas também publica no DCI).

Esse balanço era aguardado pelo mercado com alguma expectativa, não só por ver o desempenho do clube, mas para ver o impacto das vendas de Breno e Ilsinho sobre o resultado financeiro, juntamente com a adesão à Timemania. Desde sua publicação, algumas matérias a respeito foram publicadas em sites e jornais, entre as quais destaco artigo na Folha de S.Paulo em e post do Maurício Bardella no site Futebol & Negócio, cujo link está na lista de Favoritos ao lado. Em relação a essas duas matérias tinha algumas divergências, mas antes de expô-las preferi conversar com algum representante do São Paulo F.C. a respeito do balanço. Para isso, ninguém melhor que o responsável por sua execução, Sérgio A. F. Pimenta, Gerente de Orçamento e Controle do clube.

Antes de conversar com o Sergio Pimenta, contei, ainda, com a valiosa contribuição do Valério Teixeira, que trabalha na área de auditoria e consultoria tributária.



Considerações gerais sobre o balanço

Um balanço é uma peça contábil de relativa simplicidade, mas que pode ser, também, de extrema complexidade, dependendo das intenções e maneiras de alocar números de quem o faz. Para a maioria das pessoas, e eu estou incluído nessa maioria, o que interessa num balanço é saber quanto ganhou, quanto gastou, quanto sobrou ou faltou e, sofisticando um pouco mais, como e porquê. Por isso mesmo, a parte dos balanços mais vista por todos é o quadro chamado Demonstrações do Resultado, ou como nos últimos balanços do São Paulo, Demonstrações do Superávit. Aproveito para destacar que os clubes são entidades sem fins lucrativos, portanto não apresentam lucros e sim superávits, e estes, quando acontecem, devem ser investidos exclusivamente no próprio clube.

O que salta à vista numa primeira olhada é a magnitude dos números: o clube fechou 2007 com uma Receita Total no valor de R$ 190.079.000,00, aqui incluídas a Receita Financeira e, principalmente, o aporte de R$ 12.440.000,00 em Patrocínios referentes à Lei de Incentivo ao Desporto. Esses recursos serão utilizados em três projetos no Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia, que são:

- “REFFIS” próprio para a unidade, o Centro de Reabilitação Desportiva, Fisioterárapica e Fisiológica;

- Estádio com vestiários, arruamento e estacionamento;

- Alojamentos para atletas, ampliando a atual capacidade.

Desse valor total arrecadado, apurou-se um superávit excepcional, no valor de 33,7 milhões de reais. Com a adesão do clube à Timemania, entretanto, houve a obrigatoriedade legal de reconhecer dívidas fiscais e previdenciárias no valor de 29,9 milhões. Com essa medida, o superávit ficou reduzido a 3,8 milhões de reais, ainda assim um resultado excepcional, considerando as despesas e investimentos realizados pelo clube.



A adesão à Timemania

Os valores confessados como dívidas pelo São Paulo foram somados a mais 14 milhões de reais cujo pagamento já estava pactuado e sendo realizado normalmente, por meio de acordos com INSS e Receita, alcançando o montante de cerca de 43 milhões de reais. Esse valor será pago no decorrer de 240 meses, basicamente com a verba a que o clube terá direito mensalmente na arrecadação da nova loteria.

A expectativa da direção, com base na previsão da Caixa Econômica Federal, é que em pouco tempo a cota a que o clube terá direito será suficiente para gerar um saldo mensal, aproveitável para reduzir o tempo de duração dos pagamentos. Nesse início de operações, ainda longe de estar plenamente implantada, a Timemania vem rendendo ao São Paulo cerca de 130.000 reais mensais, restando ao clube o desembolso de pouco mais de 50.000 reais para cumprimento de seus objetivos.

Ao mesmo tempo, amparado por liminar concedida ao Sindicato dos Clubes Profissionais de Futebol, as dívidas confessadas no momento da adesão seguem como pendências jurídicas, parte delas com grandes possibilidades de vitória.

(Aproveito para esclarecer que os comentários e projeções desse bloco “A adesão à Timemania” são de autoria exclusiva desse blogueiro.)



Resultados Operacionais

Vamos ao que realmente importa e que são as Receitas Operacionais, obtidas em função das atividades-fim do clube.

(Daqui em diante os valores serão expressos em milhares de reais.)

A Receita Operacional total alcançou o valor de R$ 176.569, com um crescimento de 44,4% sobre 2006. Esse total provém de três diferentes unidades de negócio (ponto que vai merecer uma abordagem futura em outro post):

Unidade de Negócio

2007

2006

1 – Futebol Profissional e de Base

R$ 146.426

R$ 97.768

2 – Sociais e Esportes Amadores

R$ 15.940

R$ 14.072

3 – Estádio

R$ 14.203

R$ 10.462


Estádio

Os números da receita gerada pelo Estádio Cícero Pompeu de Toledo demonstram a importância de um clube ter sua própria casa, indubitavelmente. E também os riscos, pois a construção hoje é absurdamente cara e a manutenção tem um custo elevadíssimo – no caso do Morumbi nada menos que R$ 6.532, valor que não inclui, naturalmente, os gastos em reformas e ampliações, alocados em outra parte do balanço. O crescimento de 36% nas receitas do Morumbi foi fortemente alavancado pela locação dos camarotes, principalmente, colocados na mesma rubrica que as cadeiras cativas e que passaram de R$ 4.795 em 2006 para R$ 7.129 em 2007, um crescimento de 48,7%. Essa receita equivale, grosso modo, à renda bruta de duas finais de Libertadores com casa cheia. O clube optou por alocar ao Estádio – e não ao futebol – a parcela da verba de TV recebida do Clube dos 13 e FPF correspondente à publicidade estática – as placas colocadas no entorno do gramado. Esse ponto merece ser lembrado quando for abordado o faturamento do Futebol.

Outra receita importante é conseguida com a locação do estádio para jogos de outras equipes, principalmente o Corinthians, e shows diversos. A realização de shows, importante geradora de receita em 2005 e 2006, foi baixíssima ou mesmo nula nesse exercício, o que demonstra a importância das demais fontes geradoras de receitas do estádio (nota do Editor).



Sociais e Esportes Amadores

Essa é a área tenebrosa nos clubes brasileiros. Praticamente todos os balanços vêm fortemente carregados de despesas nessa área, gerando déficits que comprometem seriamente a estabilidade do próprio clube e prejudicam sua principal atividade, o futebol. No São Paulo, em 2007 e pela primeira vez (ao menos em muitos anos), essa área gerou receita para o negócio como um todo, com uma despesa total de R$ 14.456 contra uma receita de R$ 15.940, como vimos acima. Contribuiu para isso, principalmente, uma rigorosa política de contenção de custos que, ao mesmo tempo, não pode permitir que os equipamentos e instalações não atendam às necessidades e desejos dos associados, associada a um aumento nas contribuições dos associados.

Pelo que pode ser visto em balanços de outros clubes, atingir o ponto de equilíbrio entre receita e despesa nessa área já seria suficiente, por si só, para dar uma boa alavancada em suas contas.



Futebol Profissional e de Base – As Receitas

Essa é a razão de ser do São Paulo e a menina dos olhos do clube, melhor ainda no plural, as meninas dos olhos.

O número realmente espetacular de R$ 146.426 deve sua grandeza aos R$ 76.106 arrecadados com transferência de direitos federativos, principalmente as transferências de Breno e Ilsinho.

Item

2007

2006

Negociação de atestados liberatórios

76.106

21.789

Direitos de transmissão de TV (+ 2.142 em “Estádio”)

24.855

27.780

Publicidade e Patrocínio

19.628

18.249

Arrecadação de jogos

12.464

18.536

Licenciamento da marca

5.174

3.857

Prêmios, Sócio-Torcedor, Outras receitas

8.199

7.557

Totais

146.426

97.768

Se tirarmos os valores de negociação de atletas, as receitas de 2007 e 2006 caem, respectivamente, para R$ 70.320 e R$ 75.979, ou seja, em 2007, mesmo com o título brasileiro, o São Paulo teve uma queda de receita da ordem de 7,5% em relação ao ano anterior. Essa queda é devida ao menor faturamento com TV e, principalmente, à menor arrecadação com bilheteria. Nos dois casos, a razão principal é a mesma: a eliminação nas oitavas-de-final na Copa Libertadores.

Em 2006, somente a renda da final contra o Internacional atingiu um valor superior a três milhões de reais, sem contar as rendas dos jogos de quartas e semifinal. Some-se a isso a receita pelas transmissões e fica explicada a diferença (nota do Editor).

Em tese, Olhar Crônico Esportivo acredita que é com essas receitas básicas – TV, Bilheteria e Marketing (patrocínios, publicidade e licensing) que um clube deve sobreviver e crescer. É dessa forma que os clubes europeus trabalham e têm suas receitas auferidas. Ao vermos os rankings de receitas dos clubes europeus notamos duas coisas: eles não incluem os valores auferidos com transferências de atletas e não há “bilheteria”, e sim “matchday”, um complexo de receitas que vai além do ingresso para o jogo. Entretanto, estamos no Brasil, e para nossos clubes formar e negociar atletas é condição sine qua non para sobreviver, para manter o futebol operacional, para crescer, em suma. Apesar disso, o caminho para os clubes brasileiros se fortalecerem está justamente na ampliação das receitas oriundas dessas fontes “européias”. Elas são mais consistentes e previsíveis. Trabalhar em cima delas permite, também, que um clube não fique refém da necessidade de títulos. Afinal, campeão há somente um em cada competição, ao passo que boas campanhas são acessíveis a muitos clubes dentro do mesmo campeonato.

As receitas de TV e Patrocínio do São Paulo são semelhantes às obtidas pelos outros grandes clubes brasileiros, em especial Flamengo, Corinthians, Vasco e Palmeiras (com o São Paulo, são os clubes do Grupo I do Clube dos 13, que recebem as maiores cotas de TV, como o leitor pode ver em diversos posts a respeito nesse blog).

Esses valores terão substancial aumento em 2009, graças ao novo contrato de cessão de direitos de TV, em fase final de negociação entre o Clube dos 13 e a Globo, e graças, também, ao novo contrato de patrocínio de camisa, sobre o qual se especula muito, mas nada se sabe de concreto. Como já foi postado em mais de uma oportunidade, esse Olhar Crônico Esportivo acredita que a renovação com a LG ou a assinatura com um novo patrocinador, deverá ultrapassar o patamar de 20 milhões de reais, valor que poderá ser bem alavancado por uma temporada brilhante, em especial na Copa Santander Libertadores.

Outro bom caminho, praticado com crescente sucesso por Internacional e Grêmio, é o investimento na categoria “sócio-torcedor”. No São Paulo, embora já tenha alguns anos desde sua implantação, o número de sócios-torcedores ainda é pequeno diante do tamanho da torcida, como pode ser visto pelo valor lançado no balanço: R$ 3.534 – essa é uma área com forte potencial para crescer, mas, na visão desse blog, precisa ser melhor trabalhada.

Finalmente, o que deve ser a “menina-dos-olhos” do marketing dos grandes clubes brasileiros: o licensing, a renda auferida pelo licenciamento do uso da marca para os mais diferentes objetos, desde a tradicional camisa “número 1” até carrinhos-de-bebê e poltronas reclináveis para uso doméstico. Embora grande para os padrões brasileiros, o valor auferido pelo São Paulo com essa atividade, R$ 5.174 – equivalente, grosso modo, a dois milhões de euros – é minúsculo diante das possibilidades que o mercado brasileiro oferece e, muito, muito distante dos valores e do peso que essa receita tem para os clubes europeus. Apesar de pequeno em números absolutos, cabe destacar que houve um excelente crescimento de 2006 para 2007: nada menos que 34%, com a perspectiva de manter-se nesse patamar, ou mesmo crescer ainda mais.



As Despesas do Futebol Profissional e de Base

Faturamento alto, despesa alta. Tirando poucos e excepcionais negócios em fase inicial, com mercado consumidor explodindo e margens de lucro estratosféricas, essa é a regra no mundo real dos negócios: para faturar muito, tem que gastar muito, também. A diferença entre lucro e perda, entre os melhores e os piores ou simplesmente bons, está na otimização das despesas e em sua manutenção em níveis ótimos, nem para cima, comprometendo os ganhos, muito menos para baixo, comprometendo a qualidade dos produtos ou serviços.

As despesas do São Paulo são elevadas e estão concentradas no foco do negócio principal do clube, o futebol.

No item Pessoal houve um grande salto de 2006 para 2007, que foi apontado negativamente por vários analistas. O valor passou de R$ 23.028 para R$ 37.747, ou impressionantes 64% a mais. A uma primeira olhada, isso significaria um brutal crescimento na massa salarial. Todavia, uma olhada igualmente rápida aos itens Encargos Trabalhistas e Benefícios, e outra olhada aos Direitos de Uso de Imagem, mostrariam um módico e consistente crescimento de aproximadamente 20%. Diante disso, pode-se estimar que os gastos com Pessoal tenham passado de 23.028 em 2006 para algo como 27.000 em 2007.

Como explicar, então, a diferença para os 37.747 lançados no balanço?

A explicação é simples: o São Paulo recebeu valores cheios nas transferências de atletas, e assim contabilizou-os, repassando aos mesmos suas partes nos Direitos Econômicos. Os atletas que receberam como “pessoas físicas”, e aqui foi importante a explicação do executivo do clube para entender o quadro, foram pagos através da Folha de Pagamentos do clube, e os valores foram alocados na rubrica Pessoal, o que acabou gerando o valor superior a 37 milhões que tanta atenção chamou.

Outros atletas, receberam seus direitos como pessoas jurídicas, também repassados pelo clube, mas alocados em item próprio no balanço - Participação de Atletas em Direitos Econômicos – num total de R$ 11.684, que não existiram em 2006.

Como o São Paulo não abriu esses números, a conta simples considerando os itens descritos, permitiu-nos calcular o valor do item Pessoal em cerca de R$ 27.000, implicando num crescimento de aproximadamente 17%.

Como curiosidade, para chegar ao valor total da famosa “Folha Salarial” tão comentada nos programas de rádio e TV e nos sites e jornais, esse Olhar Crônico Esportivo somou os valores de Pessoal, Encargos, Benefícios, Prêmios, Direitos de Arena e Direitos de Uso de Imagem, e o valor obtido é apreciável: R$ 56.122. Futebol é um negócio caro, sem dúvida, mas esse total de custos com pessoal é plenamente compatível com a realidade e com as receitas do São Paulo F.C.



O custo das divisões de base

Outra despesa elevada e que justifica a negociação de atletas jovens, é justamente o seu custo de formação. Em 2005 o São Paulo inaugurou o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia. Desde então, o item Custo de Formação de Atletas, consolidado à parte, mas com suas despesas divididas em diferentes itens no Futebol Profissional, vem crescendo de forma significativa:

2005

2006

2007

Custo de formação de atletas

R$ 4.939

R$ 7.505

R$ 9.236

Nesses três últimos anos, o custo total de formação de atletas atingiu R$ 21.680, ou seja, pouco mais que o valor líquido recebido pela transferência de Breno para o Bayern Munchen.

Em 31 de dezembro de 2007, o clube mantinha 128 jovens atletas no plantel das categorias de base – 128 centros de custos, podemos dizer, mas também 128 possíveis futuros geradores de receitas.

Na visão desse Olhar Crônico Esportivo é muito simples: seria ótimo manter Breno e Ilsinho no time tricolor, mas não seria justo para os atletas, uma vez que o São Paulo e nenhum outro clube brasileiro teria condições de pagar-lhes o que ganham na Europa. Ao mesmo tempo, sempre considerando as condições do mercado brasileiro, o clube tem necessidade de negociar atletas formados na base, mesmo porque, como podemos ver, o custo das divisões de base é muito elevado e precisa ser coberto.



Dividas e dúvidas

Um outro ponto que chamou a atenção foi a dívida com bancos, próxima de trinta milhões de reais, ou pouco menos de 25 milhões, pois parte já foi saldada. Dívidas levam a “despesas financeiras” e embora esse item assuste um pouco, ele é composto não só por juros, mas também por perdas cambiais. Quando um atleta é transferido, sua negociação em dólares ou euros é registrada pelo valor do câmbio no dia em que o contrato é assinado. Porém, tem sido freqüente que o valor recebido pelo clube algum tempo depois, apresente diferença negativa, em função de sucessivas valorizações do real ou desvalorizações do dólar, como queiram.

Outro ponto importante, é que boa parte do perfil dessa dívida foi alongado e toda ela foi negociada com taxas de juros razoáveis o bastante para não levar o clube a saldá-las com as disponibilidades de caixa. Em parte, isso foi explicado pelo gerente Tricolor, que disse, também, que é comum os clubes terem problemas com seu fluxo de caixa no início do ano, período em que a temporada ainda não “esquentou”, mas que costuma exigir desembolsos elevados, inclusive com novos atletas.

A esse respeito, Olhar Crônico Esportivo acrescenta o problema vivido na relação São Paulo/LG nos primeiros meses de 2007, que coincidiu com a eliminação precoce na Copa Libertadores, logo em seguida à saída da disputa do Campeonato Paulista.

Como a patrocinadora suspendeu seus pagamentos por dois ou três meses, e a isso somou-se a não realização de receitas nas duas competições, é natural que o clube tenha recorrido a bancos.

Por outro lado, apesar do que foi dito em matéria da Folha de S.Paulo em 25 de abril, o São Paulo não pegou adiantamento de cotas de TV com o Clube dos 13 – informação que esse blog já havia divulgado em 20 de março desse ano.



Conclusão e comentários

É inegável que a posição do São Paulo é excelente e quase única no cenário brasileiro. Dentro desse cenário e com esses resultados, principalmente para quem não vivencia intimamente o dia-a-dia do clube e a enorme quantidade de problemas e dores-de-cabeça que gera a administração de uma grande equipe de futebol, é até difícil fazer críticas. Críticas justas, claro, e que sejam plausíveis.

Considerando que vários aspectos já estão sendo conduzidos da melhor maneira possível, com total profissionalismo, eu, particularmente, gostaria de destacar três pontos que considero fundamentais, não só para o São Paulo, mas para todos os grandes clubes brasileiros:

- a importância de avançar na Copa Santander Libertadores o máximo possível; é algo óbvio, mas quando vemos o impacto negativo de uma eliminação precoce em forma de números não realizados, essa obviedade ganha muito mais força;

- alavancar as receitas de bilheteria, principalmente no Campeonato Brasileiro; mais que nunca os clubes, e o São Paulo em particular, devem buscar meios de incentivar seus torcedores a comparecerem aos estádios; essa receita faz muita diferença;

- reforçar o marketing, principalmente no licenciamento de produtos com a marca do clube; o licensing pode crescer quase sem limites, teoricamente; o mercado consumidor é enorme e está em crescimento, com a chegada a ele de novas levas de consumidores, e o produto futebol, que já está em alta, pode crescer ainda mais junto às pessoas.

Infelizmente, olhando e analisando esses números, fica clara, também, a necessidade de continuar negociando atletas agora e por mais um bom tempo.

Mesmo o São Paulo F.C., com seu balanço que encheu os olhos e – por que não? – também o cofre do Morumbi.


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Site ou sítio?


(Uma pausa no futebol nosso de cada dia.)

Sabem os leitores desse Olhar Crônico e desse Olhar Crônico Esportivo, ou deveriam saber, que sou um amante da língua portuguesa. Também o sou da língua portuguesa falada no Brasil. Não é difícil vocês encontrarem palavras e expressões que no dia-a-dia nosso estão em desuso ou já trancafiadas no arquivo morto.

Desuso e trancafiadas: duas palavras não muito comuns, né?

Para ajudar, esse “né”, que o Houaiss não só reconhece como classifica na mui digna e útil família dos advérbios.

Aliás, até mesmo esse “Houaiss” tem significado próprio, tendo sido empregado como sinônimo de e referência a um dicionário.

Marketing é palavra usual nos meus escritos, mormente no Olhar Crônico Esportivo e, confesso meio sem graça, já usei o vocábulo mercadologia, porém muito mais como uma curiosidade do que propriamente como sinônimo de marketing. Nem dá para comparar um e outro, não é mesmo? Claro que vocês, leitores cultos e bem informados, sabem que esse mormente empregado aí atrás e principalmente ou sobretudo são a mesma coisa, assim como maiormente, do qual mormente é uma contratura – não muscular, mas gramatical. Embora qualquer guri “analfabetizado” por nosso sistema de ensino saiba o que é uma contratura muscular, ele ignora, desconhece, não tem a menor idéia do que seja uma contratura gramatical. Se bem que, verdade seja dita, o comum e correto é dizer contração gramatical e não contratura gramatical. Contudo, contratura é sinônimo de contração, logo, é perfeitamente lógico usá-la para explicar o né e o mormente.

Contudo, contratura, contração... Com tudo isso a razão de ser desse texto perdeu-se em algum lugar lá pra (mais uma contração ou contratura) trás.

Graças ao meu GPS específico para textos, principalmente os metidos a besta, descobri onde foi que fiquei perdido: logo no início. Voltemos, portanto, a ele.

Sabem, também, os leitores, sobretudo os do Olhar Crônico, que sou o feliz, embora acabrunhado, proprietário do Sítio das Macaúbas. Sabem todos os brasileiros leitores desses blogs que sítio é um pedaço de terra usado para a prática agrícola ou para a criação de animais, vacuns na maior parte, os populares bovinos, mas também porcinos, caprinos, ovinos, eqüinos e outros, até mesmo girinos e alevinos, que depois crescem e, mudando de tamanho, mudam de nome, passando a serem chamados de rãs e peixes. Isso é um sítio, local costumeiramente contemplado com belas e desertas piscinas, sonho de onze em cada dez urbanícolas que sonham com uma vida mais doce, quieta, realizadora...

Dizem os dicionários, e somente eles, que sítio é o mesmo que local, lugar, e é, também, endereço.

Apegados a essa visão dicionaresca da cultura e da vida, muita gente boa e muita gente nem tanto, como certo deputado, prega o uso dessa palavra em lugar de site – sáite, em bom português tupiniquim – para designar endereços de internet, as populares romipeiges, ou homepages, como falamos no moderno português praticado nesse imenso bananal.

Que sandice! Coisa mais boba dizer para um amigo: “Acessa o sítio do Emerson, ele escreveu mais abobrinhas.”

“Acessa o sítio... mais abobrinhas.”

Tenebrosa combinação.

A sandice, todavia, não pára em site x sítio. Imaginem, estimadíssimos, que querem deletar de nossas vidas até mesmo o verbo deletar!

Absurdo!

Nada mais latino, nada mais puro, nada mais “última flor do Lácio” do que deletar, derivado do latim delere e deletum. Por sinal, o post anterior do Olhar Crônico foi, justamente, Delenda Itaipu. Sendo assim, não vou alongar-me nesse ponto, mas recomendo a leitura ou releitura de “Delenda Itaipu”. Caso queira, aproveite e printe esse texto na sua impressora, mas procure usar papel reciclado. Esse blog, ou site, ou homepage, é a favor do ambiente, de preferência por inteiro e não pelo meio. Portanto, olhos à obra na leitura ou releitura recomendada. Afinal, chove a cântaros nessa sexta-feira meio-feriado e nada melhor que perder tempo com um pouco de abobrinhas escritas por um blogueiro que gosta da língua viva e em constante crescimento, não necessariamente mutação.

Capisce?


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